19 de julho de 2014 | N°
17864
CAPA
O SER HUMANO PROSPEROU EM BANDOS
Os efeitos surpreendentes dessa
experiência exclusivamente humana que é a solidão são objeto de estudo de
Cacioppo, que falou, em entrevista por e-mail ao Vida, sobre a importância dos
vínculos sociais e sobre como podemos nos resgatar da dor do isolamento.
Confira:
Qual a principal diferença entre
o “estar só”e a solidão?
Estar só expressa o prazer de
estar sozinho, enquanto que a palavra “solidão” expressa a dor de sentir-se
sozinho. Milhões de pessoas sofrem diariamente de solidão, uma condição
psicológica debilitante caracterizada por uma profunda sensação de vazio,
inutilidade, falta de controle e ameaça pessoal. O isolamento físico pode
contribuir para sentimentos de solidão, mas as pessoas podem ser solitárias em
um casamento, família, ou multidão.
Você costuma dizer que os seres
humanos são seres “sociais com ponto de exclamação”. Como você explica isso?
Nosso trabalho com imagens
cerebrais, marcadores fisiológicos e análises de herdabilidade, nos permitiu
colocar a solidão em um contexto evolutivo. No início de nossa história como
espécie, o ser humano sobreviveu e prosperou apenas por viver em bandos –
famílias, tribos e casais –, o que proporcionou proteção e assistência mútua. A
solidão evoluiu, então, como qualquer outra forma de dor. Esse sinal de
“solidão” serviu para nos alertar sobre a necessidade de renovar as conexões
que precisávamos para garantir a sobrevivência e para constituir a confiança
social, assim como a fome, a sede, a dor física.
Algumas pessoas têm predisposição
à solidão?
Sim, a solidão é cerca de 50%
hereditária, mas isso não significa que é determinada exclusivamente pelos
genes. Uma quantidade igual é devido a fatores ambientais. O que parece ser
hereditário é a intensidade da dor sentida quando a pessoa se sente socialmente
isolada. Independente de ser sensível ou insensível, o importante é criar um
ambiente que corresponda a essa predisposição. Se uma pessoa é especialmente
sensível, então ela pode se beneficiar e melhorar sua saúde e bem-estar ao
priorizar o desenvolvimento e manutenção de relacionamentos de alta qualidade.
As pessoas podem viver momentos
de solidão mas se recuperar. Como diferenciar da solidão crônica, condição que
pode prejudicar a saúde?
Determinadas situações podem
aumentar o risco de uma pessoa se sentir só, como o término de um
relacionamento, ser desrespeitada, ter conflitos que não são solucionados ou
pouco contato com familiares e amigos. Essas situações podem diminuir a
sensação de estar conectados com os demais, o que deve motivar as pessoas a
buscar uma reconexão. Se essas tentativas não forem bem-sucedidas, o sentimento
de solidão pode ficar desconectado da situação que o provocou, causando um
problema crônico.