quarta-feira, 23 de julho de 2014


23 de julho de 2014 | N° 17868
ARTIGO - DIZA GONZAGA *

O TRÂNSITO, A COPA E O JEITINHO BRASILEIRO

Estamos vivendo ainda a “ressaca” da derrota da nossa Seleção neste mundial, em que o grande diferencial de outras Copas do Mundo é de que éramos, depois de mais de meio século, os donos da casa, da grande festa que é um evento como esse.

Mas o que a Copa tem a ver com o trânsito? Muito, eu diria. A começar pelo retrocesso que tivemos ao ser revogada uma lei que proibia o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios, mesmo que “apenas” naqueles que receberam os jogos.

Sabemos que o álcool, associado à direção, e a velocidade são os grandes vilões desta guerra que é travada diariamente nas ruas e estradas brasileiras. E dar férias para a lei abre um perigoso precedente e até mesmo um mau exemplo para as novas gerações. Passamos a mensagem de que, dependendo da situação ou do “patrocinador”, podemos abrir mão de leis para o famoso “jeitinho brasileiro”.

Por acharmos que sempre podemos levar vantagem, levar a melhor, é que perdemos para a Alemanha com um escore nunca visto em Copas do Mundo. Confesso que futebol não é um assunto de que tenho muito conhecimento, mas serve muito bem como exemplo para falar da impunidade e do nosso comportamento no trânsito.

Volto à Câmara dos Deputados, que com a aprovação de uma lei para o parcelamento de multas irá beneficiar quem? O infrator? Ah! Os senhores deputados trazem a questão do desemprego, que será evitado por aqueles que precisam do automóvel como instrumento de trabalho.

Sim, uma justificativa que parece justa e até coerente, se não estivéssemos falando em parcelar uma infração. E, indo por esse caminho, teríamos de rever inúmeras outras penalidades que são impostas não apenas a quem comete infrações de trânsito.

Convido os leitores para uma reflexão: até quando vamos penalizar o cidadão que cumpre as leis, paga suas contas em dia e age com civilidade e respeito, privilegiando aqueles que não o fazem?

O que gostaria é que esta Copa do Mundo deixasse, como maior legado, o legado moral: da educação e do respeito, e que o “jeitinho brasileiro” não resolve. Assim como no trânsito, quando achamos que somos imortais, que só acontece com o outro, e que com “jeitinho” burlamos a lei, a multa e quem sabe até a morte.


* Presidente da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga