20
de julho de 2014 | N° 17865
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Esquizofrenia do amor
Não
sei o que é mais perturbador: aquele que se sente incomodado e discute a todo
momento ou o que atravessa a tempestade verbal sem nenhuma alteração de humor.
Já fui
os dois, mas ainda arco com a indecisão sobre qual tipo ajuda mais o amor. Não
tenho a resposta, até porque resposta nem sempre é solução.
Qual
o perfil mais agradável: o que debate sem parar ou aquele que não debate nunca?
O que chora nos primeiros minutos de distância ou o que não chora jamais? O que
se desespera nas divergências ou quem vira as costas, bate a porta e foge de
qualquer conversa séria? O que se mostra muito interessado em tudo o que se
vive dentro do casamento, corrige os problemas na hora, sofre horrores para se
fazer entender ou o que despreza os aborrecimento diários, não alimenta a
fogueira das palavras e larga discussões com a confiança intacta, como se nada
tivesse acontecido?
Não
venha concluir que é o meio-termo, o meio-termo não é uma realidade amorosa.
Gostaria
de entender qual dos extremos tem mais sucesso na resolução dos conflitos. Sobram
pontos positivos e negativos para ambas as partes.
O
primeiro ama escandalosamente, sofre com as oscilações do cotidiano, só que
também não deixa os desentendimentos naturais esfriarem. Pode gerar rupturas
pelo cansaço.
O
segundo facilita a mudança de estado de espírito, só que parece gélido e
imperturbável, subestima as dificuldades da companhia e corre o risco de criar
um perigoso distanciamento na relação.
O
primeiro tem a virtude da sinceridade, porém estraga a noite com sua ansiedade.
Briga e não consegue realizar coisa alguma até firmar as pazes. Não dorme, não
come, mergulha no mal-estar profundo. Apresenta beiço, raiva, contrariedade e
vai se aquietar apenas com carinhos, abraços redentores e pedidos espalhafatosos
de desculpa. É sincero, porém passional.
O
segundo tem uma leveza maravilhosa e também irritante. Recém quebraram os
pratos e conversa com absoluta desmemória, como se estivesse acordando naquele
momento. Ao mesmo tempo em que evita dramas desnecessários, também não permite
a intimidade da raiva e da catarse. A sensação é de que os gritos e as discordâncias
entraram por um ouvido e saíram pelo outro. Você está inchada do choro e ele já
está vendo sua série predileta e rindo loucamente.
É uma
dúvida insaciável, a mesma que atinge nossa reação diante do ciúme: se
preferimos estar acompanhados do preocupado que não oferece um minuto de trégua
ou de um indiferente, que nem nos olha?
Cada
vez mais reconheço que no amor não existe o melhor, mas o menos pior.