segunda-feira, 21 de julho de 2014


21 de julho de 2014 | N° 17866
MARCELO CARNEIRO DA CUNHA

24 EM 12

Pois uma das coisas que surpreendem a pessoa é a relatividade da vã matemática, quando isso convém. 24 Horas era, ora vejam, uma séria com 24 episódios, cada um com mais ou menos uma hora e que aconteciam em um imaginário tempo real.

Ficção, caros leitores, é ficção porque não tem de se limitar a coisas como o tempo, este nosso opressor. A liberdade em relação aos limites impostos por espaço e tempo é e sempre foi uma das virtudes da ficção.

24 era novidade, quando surgiu, por essa ideia de se converter a um tempo real, cada hora uma hora, o que a gente via era mesmo o que acontecia, mesmo que o que a gente via fosse virtualmente impossível de acontecer em uma hora – ou pelo menos em horas terrestres.

A mais recente temporada de 24 inovou ao se resumir a 12 episódios.

Cansaço, custos, sabe-se lá, ou vantagens mesmo de não se ter tantos episódios confundindo a cabeça do povo, o fato é que tivemos 12 episódios e pimba, acabou.

Acabou mais ou menos como sempre acaba: nosso estimado Jack Bauer, um pouco mais viúvo do que já era, e entrando em alguma fria da qual sairá, ou não teremos uma décima temporada.

Jack Bauer é um verdadeiro Houdini, e sempre sai da fria, de volta aos nossos lares. Apanha, sofre, ganha novas camadas de marcas de tortura, mas, de um jeito ou outro, volta.

Nessa temporada, Londres escapou por pouco da destruição, Chloe virou uma versão daquela hacker meio improvável do Millennium, que é mais ou menos o jeito como gente careta imagina uma hacker, o presidente americano conseguiu escapar do seu Serviço Secreto para ir ali levar um foguete pelas ventas, e a realidade se mostrou um detalhe, de novo.

24 se apoiava em uma imaginária e impossível fidelidade ao real para parecer real. Agora, eles deixaram isso de lado para assumir o que são: um James Bond americano, tão improvável quanto menos charmoso, mais violento, mais cínico. Ou seja: um Bond para os nossos tempos. E, daqui a pouco, sabe-se lá como, ele volta.


Até lá, e a gente segue em frente.