24
de julho de 2014 | N° 17869
EDITORIAL
Zh
INCOMPETÊNCIA FATAL
As
falhas admitidas para a queda do viaduto
em
Belo Horizonte precisam levar a uma revisão radical na construção de obras de
infraestrutura.
Dezenove
dias depois do desabamento do viaduto Guararapes, em Belo Horizonte, a empresa
responsável pela execução da obra admitiu falhas na concepção do projeto,
especialmente a colocação de aço insuficiente para suportar a carga de tráfego
prevista.
A
exemplo do que ocorreu na boate Kiss, embora a proporção de vítimas agora seja
menor, o desabamento também não foi uma fatalidade: foi, isto sim, resultado da
falta de cuidados mínimos por parte das empreiteiras e dos órgãos públicos
encarregados da fiscalização. Ambos os casos demonstram que o país está longe
de combater com a intensidade necessária esta cultura da irresponsabilidade,
que mantém os cidadãos sob riscos constantes.
A
tragédia que resultou na morte de duas pessoas e em 23 feridos em plena Copa do
Mundo é didática para demonstrar o quanto é comum a diluição de
responsabilidades no caso de obras públicas. A construtora responsável pela
obra culpou a prefeitura pelo erro estrutural que levou à queda, disseminando
suspeitas sobre uma série de outros empreendimentos em edificação na cidade.
Como
o projeto executivo é de responsabilidade de outra empresa – a quem a
construtora acusa de ter usado um décimo da quantidade de aço necessário para
manter a estrutura de pé –, a administração municipal ainda vai aguardar o
resultado de perícias oficiais para tomar providências. Enquanto isso, resta
aos cidadãos conviver com o temor permanente.
A
sociedade precisa cobrar, de forma incisiva, conclusões convincentes para o
caso. Desde já, porém, um fato incontestável é que faltou aço, mas também
seriedade no planejamento e na execução do viaduto batizado ironicamente com
nome de uma batalha vitoriosa para o país, que culminou na expulsão dos
invasores holandeses. E é óbvio que, acima de tudo, pairam relações espúrias
entre empreiteiras e governantes, para os quais obras públicas são vistas não
sob a ótica do interesse da população, mas do financiamento de campanhas eleitorais.