05 DE ABRIL DE 2018
CAMPO ABERTO
Retaliação da china mexe com mercado
O mercado internacional de soja foi sacudido pela notícia de que a China pretende aplicar taxa de 25% sobre o produto vindo dos Estados Unidos. Em novo capítulo da guerra comercial que vem sendo travada entre os dois países, os chineses apresentaram a relação de itens que devem ser tarifados. O que se viu logo depois foi um efeito negativo para os produtores americanos. A cotação da commodity na Bolsa de Chicago ficou em queda livre - os valores chegaram a ficar abaixo de US$ 10. No final do dia, o valor para os contratos de maio ficou em US$ 10,15, recuo de 2,21% em relação ao dia anterior.
- Esse rolo com a China tem viés extremamente baixista em Chicago - reforça Carlos Cogo, consultor em agronegócio.
Cenário diferente se desenhou em território brasileiro, onde os prêmios para exportação do grão subiram, fazendo compensação ao recuo em Chicago. Em uma primeira análise, o Brasil, que já é o maior exportador mundial de soja para a China, poderia ampliar ainda mais sua participação naquele mercado diante da taxação ao produto americano.
Mas o fato de as medidas do presidente dos EUA, Donald Trump - e as consequentes retaliações de Xi Jinping -, terem conotação mais política do que econômica exige cautela. Boa parte dos analistas avalia que a aplicação das tarifas à soja pode não sair do papel por pressões existentes nos dois países.
Eleitores e apoiadores de Trump, os produtores do chamado cinturão de grãos, serão diretamente impactados em caso de confirmação das tarifas e devem trabalhar para evitar que isso aconteça.
- Há uma pressão também por parte das indústrias esmagadoras e de carne chinesas, que perderão dinheiro com isso. Acho difícil que essa taxação se concretize - observa Luiz Fernando Gutierrez Roque, analista da Safras & Mercado.
Neste primeiro momento, criou-se uma grande especulação sobre o que poderá acontecer. E o anúncio da ameaça chinesa foi o suficiente para bagunçar o mercado.
PROPOSTA COLOCADA À MESA
A negociação de produtores de arroz para o pagamento das parcelas de custeio está próxima de um desfecho. Ontem, em reunião com o Banco do Brasil, foi apresentada proposta, que passará agora por análise da diretoria da instituição - a principal financiadora do crédito agrícola no país. A sugestão é de que os agricultores paguem 20% de entrada e prorroguem por três anos o saldo. Eles também teriam de quitar valores referentes à safra 2016/2017. Nas linhas de investimento, a prorrogação poderá ser para o fim do contrato.
- É uma solução emergencial. Continuaremos com as tratativas para achar uma de longo prazo - avalia Alexandre Velho, vicepresidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz-RS).
As dificuldades enfrentadas são resultado de uma conta que não fecha. Os custos de produção estão acima de R$ 40 a saca, enquanto o preço mínimo é de R$ 36,01.
Entre as medidas consideradas essenciais para resolver a crise no longo prazo estão menor tributação de ICMS e solução para os problemas apontados na relação com o Mercosul.
no radar
ALVO DA Operação Trapaça e com unidades suspensas para a exportação à Europa, a BRF anunciou férias coletivas para trabalhadores de duas unidades: Rio Verde (GO) e Carambeí (PR). A medida busca ajustar a produção à demanda. Já foram feitas readequações em quatro frigoríficos da marca.
37,07 mil
toneladas foi o volume de arroz negociado no leilão de Prêmio de Escoamento da Produção (PEP) realizado ontem, de um total de 90 mil toneladas. No Prêmio Equalizador Pago ao Produtor, sobraram todas as 17 mil toneladas ofertadas.
cartão amarelo à Monsanto
Uma cooperativa do Estado resolveu suspender o contrato firmado com a multinacional Monsanto para a soja transgênica. A medida foi tomada pela Cotripal, de Panambi, no Noroeste, na tarde de terça-feira. Com isso, não estão sendo recolhidos, no momento, os royalties sobre a produção entregue.
A cooperativa diz não poder dar maiores detalhes sobre a razão para a ação por cláusulas de confidencialidade. A suspensão, segundo a Cotripal, será mantida enquanto a multinacional não fizer ajustes em sua postura referente ao cumprimento do contrato.
A Monsanto diz que tenta marcar reunião com dirigentes da cooperativa para entender os questionamentos feitos.
Vicente Barbiero, presidente da Associação das Empresas Cerealistas do Estado, por sua vez, busca contato com a multinacional para entender a situação. É que nos demais estabelecimentos do setor os auditores da empresa continuam atuando e fazendo a cobrança dos royalties.
GISELE LOEBLEIN