Intervenção neuropsicanalítica holística
Decretada a intervenção neuropsicanalítica no Brasil. Por ora, 23 eleitores representativos dos 23 candidatos a presidente se reúnem numa terapia grupal no consultório de 14 metros quadrados do Dr. Ecumênico Pinel. Ficam de pé em volta do divã onde está deitado o Brasil.
A ideia é buscar expressão, entendimento, mediação, conciliação e saída pacífica e democrática para a pátria enfraquecida e dividida. Dr. Pinel foi escolhido pois trabalha com base em teorias de vários mestres da psicanálise, em modernas mesclas de psicoterapias com estudos de neurociências e remédios e com toques holísticos que incluem espiritualidade, seixos marcianos, mantras intergalácticos e novidades outras que surgirem.
A coisa começa: O Brasil precisa de ordem, segurança, valores tradicionais que amparem a família, a moral e os bons costumes. É só olhar para o exterior e ver que estamos em época de volta aos bons valores "retrô". Sou contra. Acho que precisamos de liberdade total, justiça social, educação, segurança, saúde, moradia e alegria. Precisamos de comida na mesa, inclusive com uma cervejinha, para todos da diversidade que quiserem.
Necessitamos desenvolvimento econômico para atender as demandas sociais, dentro de uma ordem de respeito à livre iniciativa, à liberdade e aos preceitos do desenvolvimento capitalista democrático e inclusivo. Acho que não é para a direita, nem para a esquerda, nem para o centro. Em frente com terceira, quarta ou quinta via. Vamos inovar nos campos político, social e econômico. O novo sempre vem. Não podemos nos aferrar ao passado que já foi.
Pois é, mas sou mais pela ecologia, pela autossustentabilidade, pelo capitalismo verde, se for o caso. Precisamos fazer brotar novas pessoas e novos sonhos, nos campos e cidades do presente e do futuro. Precisamos tornar muito bom o presente, e aí o futuro será ainda melhor. O Dr. Pinel intervém: mas e a corrupção endêmica, sistêmica e nosso problema de priorizar o individual em detrimento do social, nossa cultura hedonística tropical, como faremos?
Lutaremos contra a corrupção na ética, na política e em todo lugar. Passaremos o País à limpo num caderno novo, de primeiro dia de aula. Passaremos Jimo na corrupção, que é cupim da nação. Encontraremos uma forma de respeitar os direitos e garantias individuais, garantindo também que o bem e os interesses públicos permaneçam. Não é fácil, pode ser meio impossível, mas começaremos. Revisaremos os 500 anos de nossa jovem história e buscaremos alternativas, a partir de nossos bons valores.
Precisamos refundar a Pátria, lançar alicerces para a construção do prédio do futuro, onde viverão as futuras gerações. Acho que deveríamos promover uma união em torno dos altos interesses nacionais, deixando de lado vaidades pessoais, privilégios de partidos, neuras ideológicas e questíunculas meramente paroquiais. O Brasil é maior e melhor nós, que somos, fazemos e acontecemos o Brasil. Posso ser o elo de união, me sacrificarei para tanto.
a propósito...
Dr. Pinel continua: Bem, nem todos ainda tiveram oportunidade de falar. Nosso tempo, por hoje, terminou, nossa sessão de uma hora de quarenta e cinco minutos continua outro dia. Acho que avançaremos na tarefa de mediar os conflitos e buscar a melhor solução. O Brasil nunca teve um interventor neuropsicanalítico e a hora chegou. Sei da minha alta responsabilidade, vou me dedicar ao máximo.
Obrigado pela presença de todos. Os que precisarem de receita de antidepressivo, calmante ou sonífero é só pedir, que a coisa não está fácil, eu sei. Vamos tentar conversar sem bater ou dar tiros nos outros, gritar muito ou falar das mães. Alerto que, se vocês não se comportarem, vou pôr em prática o meu plano de morar em Montevidéu, no bairro Carrasco, claro, que nadie es de hierro. (Jaime Cimenti) -
Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2018/04/colunas/livros/622732-dyonelio-machado-o-inicio.html