30 DE ABRIL DE 2018
CELSO LOUREIRO CHAVES
A DISTÂNCIA
Talvez a Filarmônica de Berlim tenha sido a primeira a se dar conta do potencial do streaming e a criar temporadas consistentes de concertos pela internet. Agora, toda vez que anuncia um novo ano de concertos ao vivo, a Filarmônica já apresenta a sua temporada de streaming. A orquestra se cercou da melhor tecnologia antes de se lançar nessa aventura recente. Excelentes câmeras, som irrepreensível e diretores de imagem excepcionais que mostram instrumentos quando realmente esses instrumentos estão tocando, às vezes se detendo com vagar na figura do maestro.
A assinatura da Sala de Concertos Digital da Filarmônica é paga pelo usuário com muitos e caros euros, mas mesmo assim sai mais barato do que assistir à orquestra ao vivo. E com mais conforto, pois a sala berlinense - pelo menos nas áreas públicas - é um triunfo de desconforto. A moda do streaming da música de concerto pegou e hoje a oferta é grande. O repertório pode ser a mesmice ou pode desafiar, tanto faz. No streaming, os músicos de orquestra viram super-heróis, e os solistas mostram que na música o impossível é possível.
É bom dar uma olhada também nas transmissões - grátis! - da Filarmônica do Elba, direto de Hamburgo (elbphilarmonie.de), e tentar fisgar uma olhada numa das salas de concerto mais inacreditáveis do século 21. Ou as transmissões do operavision.eu com o melhor do eurotrash, aquelas montagens de ópera com intervenções espertas de diretores nem tanto.
No Brasil, vale ficar atento às transmissões em 360 graus da Osesp, feitas ainda esporadicamente. A câmera fica no meio da orquestra e, com toques de mouse, se pode percorrer toda a sala enquanto se vê a música quase que por dentro. Ter uma orquestra sinfônica em casa é coisa de nobreza do século 18. Mais de 200 anos depois, não mais: o streaming ampliou o acesso e nos transformou em plateia igual àquela que lá está na sala do concerto ao vivo, aplaudindo in loco o que estamos vendo, em tempo real, a distância.
CELSO LOUREIRO CHAVES