09 DE ABRIL DE 2018
CÍNTIA MOSCOVICH
MERLÍ!
Lançada em 2015, com três temporadas que totalizam 40 episódios, Merlí é uma daquelas séries da Netflix que envolvem o espectador: é graciosa, divertida - e tem personagens imprevisíveis e bem pouco convencionais.
Escrita por Eduard Cortés e dirigida por Héctor Losano, a série gira em torno de Merlí Bergeron, vivido por Francesc Orella, professor desempregado de filosofia, que é literalmente jogado numa escola pública de Barcelona, a Àngel Guimerà, na qual tem que dar aula a alunos do segundo grau.
Merlí se revela um transgressor de marca: metido a don-juan, logo se arranja com duas professoras, além de roubar uma prova de um colega para favorecer seu filho, também seu aluno. Mas não só isso: apaixonado por sua matéria e convicto das virtudes do pensamento crítico, Merlí incentiva seus estudantes a contestar, levando-os a crises dentro da escola e das famílias, mas também a experiências inevitáveis de crescimento.
Tratando temas como homossexualidade, iniciação sexual e amorosa, drogadição e amizade, a série é uma espécie de Sociedade dos Poetas Mortos, sucesso de 1989 dirigido por Peter Weir, no qual o professor John Keating (Robin Williams) inspirava seus alunos a tornar suas vidas extraordinárias. Em Merlí, cada episódio é pautado por um filósofo ou uma escola de pensamento: de Platão a Judith Butler, dos peripatéticos aos pré- socráticos, o suporte temático é dado com base no pensador do dia.
Produzida pela TV3, canal de televisão da Catalunha, a série é falada em catalão, o que pode causar alguma estranheza a princípio. Estranho, estranho mesmo será acompanhar uma sala de aula em que alunos prestam atenção devotada a seus professores, respeitam uma rígida disciplina e conseguem responder questões básicas como o sentido da vida e o que é o nada - e dá-lhe a comer churros e paellas.
Atenção especial à trilha sonora. Além de muita música popular catalã (!), há belas passagens de Chopin e Erik Satie. No último capítulo, o Intermezzo da Cavalleria Rusticana e a Cantata 208 de Bach fecham com perfeição uma série quase perfeita.
CÍNTIA MOSCOVICH
