segunda-feira, 9 de abril de 2018



09 DE ABRIL DE 2018
VERÍSSIMO

Quem

Viva o Fernando Henrique Cardoso, que criou o Ministério da Defesa do Brasil, em 1999. Até então, o superior hierárquico do comandante das Forças Armadas era o próprio comandante, com lugar nas reuniões ministeriais. Depois do Fernando Henrique, como nos Estados modernos do mundo, o cargo passou a ser ocupado, obrigatoriamente, por um civil, com autoridade pelo menos teórica sobre a tropa. 

Funcionou durante quase 20 anos porque não houve nenhuma crise militar de nota no período e a teoria nunca foi posta à prova. Seria interessante saber, por exemplo, como se comportariam as partes no caso de uma crise militar entre outubro de 2015 e maio de 2016, quando o ministro da Defesa era Aldo Rebelo, na época do PCdoB. As Forças Armadas brasileiras subordinadas a um ministro comunista era surreal demais para contemplar, mesmo teoricamente.

Agora, um dia antes de a nação acompanhar a votação no Supremo sobre o que fazer com o corpus do Lula, cantando "Rosa, ó Rosa, para onde vais morena Rosa?", o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, postou uma nota que se resumia num aviso, "olhem lá o que vão fazer, hein?", aos membros da Corte. 

A nota do general, na véspera da votação, foi mais importante do que a votação. Marcou a volta da ameaça de intervenção militar à nossa prática política, feita não por algum cabeça quente do "jovem oficialato", mas pelo militar mais graduado do país, com o explícito apoio de outros oficiais com comandos. Dizem que, quando perguntaram ao general Villas Bôas se não seria melhor mostrar sua nota ao ministro da Defesa antes de publicá-la, o general teria dito:

- Quem?

Pois é. Eu também não sei quem é o atual ministro da Defesa. Espero que ele se identifique.

O Mario Quintana dizia que não há nada como as guerras para se aprender geografia. Ficava-se sabendo o nome de lugares remotos, tornados célebres por alguma batalha. Nada como acompanhar debates jurídicos para aprender a linguagem esotérica com que os juristas se comunicam. Imaginei que se poderia usar legendas em português para saber o que eles estão dizendo. Mas desconfio que, reduzidos a uma língua inteligível, os textos perderiam sua principal função, que é a de nos engambelar.

VERÍSSIMO