O Guaíba,
o porto e o Butiá Tudo começou às margens do Guaíba. Acho que estamos voltando ao começo, que já não era sem tempo. Depois de "discutirmos a relação" com o Guaíba, acho que bom tempo de convívio vem aí. Boa parte do rio está debaixo da Rua da Praia, rua que está enterrada, aliás, no belo livro do Nilo Ruschel, como disse o Carlos Reverbel. Aterramos e poluímos bastante nosso Guaíba e colocamos um muro à beira dele, que, um dia, quem sabe, nos servirá de proteção se suas águas se enfurecerem.
A maior parte dos navios e embarcações do porto de Porto Alegre navegaram para Rio Grande e nós seguimos calados com nosso pequeno calado. Mas nosso cais não deve ser apenas "uma saudade de pedra", como disse o poeta Fernando Pessoa. O projeto Cais Mauá está andando. Dessa vez tomara que desencalhe de vez.
As construções na Edvaldo Pereira Paiva e as obras da Usina do Gasômetro vão nos ajudar a abraçar, de novo, o Guaíba. O projeto previsto para a antiga área do Estaleiro Só, Parque do Pontal, está por receber a licença de instalação e há quem pense na revitalização das margens da Vila Assunção, Tristeza e Ipanema. Ipanema, por sinal, uma das caminhadas mais bonitas da cidade.
Das proximidades da ponte do Guaíba até a praia das Pombas, temos aproximadamente 72 quilômetros de costa, um grande potencial cultural e turístico que precisa ser bem aproveitado pelos habitantes e pelos visitantes. O Parque de Itapuã pode e deve ser mais visitado, claro que com os cuidados ambientais devidos. Em Itapuã, logo depois da praia do Lami, que vem sendo bem aproveitada, se estabeleceu o Restaurante Butiá, à beira do Guaíba. Na sede da antiga fazenda, a apenas uma hora de Porto Alegre, tem almoço, piquenique e lanches feitos, em sua maior parte, com insumos locais e frescos.
Boa parte da alimentação é orgânica. Não é apenas um restaurante. Passeios de barco e trilhas no Parque Estadual de Itapuã estão disponíveis, para as pessoas redescobrirem o Guaíba, a flora e a fauna da região. Quem quiser ir de barco pode até pernoitar por lá. Quem quiser ficar apenas relaxando nas espreguiçadeiras, curtindo a companhia da família, filhos, netos, amigos e cachorros e contemplando o Guaíba estará bem à vontade, na sombra ou no sol. Nos finais de tarde de domingo, espetáculos musicais acontecem no Butiá.
A Orquestra Jovem e João Maldonado e trio já se apresentaram e outros eventos já estão agendados.
O Butiá é um bom exemplo de aproveitamento adequado do potencial turístico da região e serve como inspiração para o poder público e privado. Henrique Theo Möller, proprietário, e família recebem as pessoas. Em passeios de barco, os visitantes podem vislumbrar o encontro das águas do Guaíba com a Lagoa dos Patos e ver a construção do belo Farol de Itapuã, erguido em 1860.
Dá para ver alguns animais da região e observar os últimos resquícios de mata atlântica da região metropolitana e, ainda, relembrar fatos históricos relacionados à Guerra dos Farrapos.
a propósito...
Num momento municipal, estadual e federal cheio de agruras políticas, econômicas e éticas de doer, ao menos temos estas notícias boas sobre o que ocorre na beira das águas atuais do Guaíba. Águas que devem mover os moinhos que nos dão farinha para fazer sonhos, pães e seguir adiante. Falando nisso, peço aqui que não dificultem o acesso das pessoas à Ilha do Pavão e ao uso do Catamarã que leva passageiros para Guaíba com competência, pontualidade e utilidade.
Nosso casamento e nossa relação com o Guaíba estão em boa fase. Tomara que continue, que melhore ainda mais pois, afinal, a vida é a arte do encontro. Com as águas do Guaíba, assim como com as águas do mar e da vida, precisamos nos reencontrar sempre. (Jaime Cimenti) -
Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2018/04/colunas/livros/621321-silvio-santos-o-maior.html)