14 DE ABRIL DE 2018
DRAUZIO VARELLA
O CELULAR E OS ADOLESCENTES
Tecnologias novas assustam a sociedade. Foi assim com o rádio, a TV e agora com as telas dos celulares.
Candice Odgers, professora de psicologia na Universidade da Califórnia, publicou na revista científica Nature uma revisão das publicações sobre o impacto da tecnologia digital no comportamento dos adolescentes.
Nos últimos anos, tem ocorrido aumento da prevalência de transtornos mentais e de suicídios entre adolescentes, em vários países. Muitos estudiosos suspeitam que o mau uso da tecnologia digital esteja por trás desse fenômeno. Os estudos, no entanto, revelam resultados conflitantes. O maior deles, conduzido em 2017 com mais de 120 mil adolescentes ingleses, não encontrou associação entre bem-estar mental e o uso moderado da tecnologia digital. Naqueles que fazem uso excessivo foi possível demonstrar efeitos negativos, porém pequenos.
Uma metanálise de 36 trabalhos publicados entre 2002 e 2017 revelou que a comunicação digital potencializa demonstrações de afeto, compartilhamento de intimidades e facilita a marcação de encontros e de atividades conjuntas. Os dados sugerem que o impacto comportamental causado pelo tempo despendido online varia de acordo com o nível socioeconômico das crianças e dos adolescentes. Jovens americanos de 13 a 18 anos de famílias com rendimentos anuais médios de U$ 35 mil passam quatro horas diárias vendo TV ou vídeos na internet, o dobro do tempo de seus pares das famílias com renda anual média de U$ 100 mil.
Em 2014, uma pesquisa com 3,5 mil participantes de nove a 16 anos residentes em sete países europeus mostrou que os pais das famílias com renda mais alta acompanhavam mais de perto as atividades online de seus filhos.
Numa pesquisa realizada na Carolina do Norte, o uso da tecnologia digital entre adolescentes de famílias de baixa renda resultou em maior probabilidade de envolvimento em agressões físicas e confrontos nas escolas do que naqueles das famílias mais abastadas. Os que apresentam problemas comportamentais, como dificuldade de concentração nas aulas ou envolvimento em brigas, tendem a ter mais transtornos comportamentais nos dias em que passam mais horas online.
Como regra geral, adolescentes que enfrentam dificuldades maiores na vida cotidiana são justamente os que correrão mais risco de experimentar os efeitos negativos do universo digital.
Por outro lado, estados mentais que predispõem a quadros de depressão, ansiedade e a tendências suicidas poderão ser identificados precocemente através de algoritmos que levem em conta o número de horas de sono e de outras variáveis selecionadas no Facebook e no Twitter. Assim identificados, os mais vulneráveis poderão receber em tempo intervenções e apoio psicológico, como ficou demonstrado numa metanálise publicada em 2016.
Os efeitos da tecnologia digital são deletérios para alguns, mas não para a maioria. O desafio é entender o impacto nas crianças e adolescentes de níveis culturais e socioeconômicos diversos, para torná-la segura e explorar ao máximo seu potencial educativo.
DRAUZIO VARELLA