18 DE NOVEMBRO DE 2022
CARPINEJAR
Homem não termina a relação, mas abandona
Homem não termina o relacionamento, mas abandona. Não espere um comunicado oficial. Não aguarde uma conversa franca, didática, olho no olho, um resumo da sua insatisfação. Ele simplesmente dá as costas dentro do lar. Talvez já esteja montando uma outra existência paralelamente.
Ele não é capaz de dizer "não estou te amando mais".
Sua covardia é preguiça. Ele vai parando de falar, de ouvir, de beijar, de abraçar, de dormir de conchinha, de levar a sério os aborrecimentos, de viajar com o seu par, de fazer romance, de valorizar os finais de semana lado a lado, de estar presente nas celebrações e festas, até desaparecer por completo, até o apagão definitivo.
Mora junto, porém não está mais junto. Divide a casa, não mais a vida. Só deixou o seu casaco na cadeira, o seu corpo no sofá. Torna-se um morto-vivo da omissão, um zumbi do silêncio.
Claro que há exceções, mas o padrão é desativar o sistema, tirar o amor da tomada, desligar-se dos acontecimentos domésticos num alheamento gradual. O mau humor e a implicância costumam ser identificados como sintomas do afastamento, mas nem sempre é o caso. Quando o homem passa a concordar com tudo, não há dúvidas: o divórcio já está próximo.
Obediência total é sinal de desistência. Submissão masculina é manifestação de indiferença. Ele prefere dizer sim a advogar a sua contrariedade. A parceria pode acreditar que o outro lado finalmente se rendeu, deu o braço a torcer. Inclusive elogia a transformação para amigos e familiares: - Está tão manso, nem discutimos mais. Aceita qualquer coisa que eu diga sem oposição, sem pegar no pé.
Mas é uma ilusão, uma miragem comportamental. Acontece exatamente o oposto. Se o marido passa a concordar com tudo, não quer mais perder tempo defendendo a sua opinião. Não quer mais gastar o seu fôlego à toa. Não quer mais desperdiçar a energia com uma convivência que não vai durar. Já pulou para fora do casamento.
Por sua vez, a mulher é educada na despedida. Nunca termina um relacionamento sem avisar. Enfrenta a verdade. Elabora o luto. Tem consciência do distanciamento interior. Detalha a sua frustração, propõe soluções, chama ao engajamento, volta para cobrar que nada mudou ou que as intenções de melhoras não foram cumpridas. É como companhia de energia elétrica: notifica o corte iminente da luz por inadimplência, antes do escuro irreversível.
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