Olhe para o céu!
- Torre, por gentileza, só por curiosidade, tem algum reporte de um objeto na posição de 10 para 11 horas, praticamente sobre Porto Alegre, um pouquinho ao sul? - Não, ainda nada. Câmbio.
- Umas luzes às vezes apagam e acendem. Tem umas luzes. Por vezes, elas apagam, acendem. Às vezes é uma, às vezes são duas ou três. - Obrigado pela informação, vamos monitorar. Câmbio.
- A tripulação continua avistando as luzes. Agora, de uma outra perspectiva: ela está bem ao sul de Porto Alegre, sentido Argentina. As luzes continuam aparecendo e se cruzando no céu. Um segundo piloto entra na conversa com o controlador de voo:
- Ah, ia informar vocês, mas iam falar que estou louco. Na verdade, estamos vendo essas luzes desde lá de Confins (Belo Horizonte). São três luzes girando em espiral entre elas, bem fortes. Estavam bem mais alto que a gente.
- Pode filmar o ponto luminoso para analisarmos padrão de comportamento? Câmbio. - Meu celular é muito ruim, já deveria ter trocado.
Os diálogos não foram exatamente esses, mas parecidos. Nunca tivemos tantas transcrições da comunicação entre pilotos e a torre, decorrentes do quinto dia consecutivo de objetos voadores não identificados no céu de Porto Alegre. Há de tudo nas conversas, mas essencialmente humanidade, ternura, humor e perplexidade.
Os comandantes das aeronaves estão tão assustados quanto um agricultor em São Borja detectando o vaivém de uma luz desconhecida por cima de sua plantação de arroz.
Virou programa noturno reunir os parentes nas varandas e nas sacadas para testemunhar e registrar os movimentos inéditos da ufologia no Rio Grande do Sul. Isso de bom os alienígenas já fizeram: voltamos a olhar as estrelas com a família, hábito extinto pela pressa. Antes só acontecia em momentos solenes, diante de um eclipse ou lua cheia.
Filhos e pais, avós e netos passaram a dividir o espaço das muretas para rastrear todo fenômeno luminoso desconhecido no nosso firmamento. A súbita curiosidade astronômica pode resgatar o aprendizado dos pontos cardeais e da localização de nossas principais constelações (por exemplo, Cruzeiro do Sul, Órion, Centauro) para as novas gerações.
O romantismo à moda antiga será recuperado. Adolescentes apaixonados terão como saborear o sereno abraçadinhos, nomeando as nossas estrelas mais brilhantes.
Talvez dispare na Black Friday a compra de aparelhos celulares com supercâmeras, telescópios, binóculos, máquinas fotográficas. Talvez estejamos presenciando o turismo extraterrestre. Com um festival de cores piscantes, os discos voadores lembram os ônibus-balada. Será que os ETs estão fazendo festa e bebendo todas?
Porto Alegre vem se transformando na capital dos óvnis. Vejo que existe uma preferência deles pela Lagoa dos Patos. Estão sempre por ali, e não é para pescar. Não duvido que haja um tesouro enterrado na maior laguna da América do Sul. Quem sabe não buscam um material muito precioso para a sobrevivência em um outro planeta. Alguma coisa de especial o gaúcho tem, além do mate.
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