Planeta Bola
Somos uma única tribo de 8 bilhões de pessoas e a Terra é nossa única tenda. Esta foi a mensagem subliminar da cerimônia de abertura da Copa do Mundo no último domingo, no Catar, um país absolutista que simboliza bem os contrastes da raça humana: riqueza e semiescravidão, diversidade e autoritarismo, modernidade e desrespeito aos direitos humanos.
Ainda assim, independentemente do lugar onde ocorre a cada quatro anos, a trégua do futebol sempre nos abastece de esperança. A bola tem o poder mágico de pacificar espíritos e de aproximar povos de diferentes culturas em torno de um propósito comum, que é a disputa pela primazia no esporte mais apaixonante do planeta. O curioso é que nesta competição todos os participantes - seleções de países pobres e ricos, poderosos e emergentes, democratas e autocratas - obedecem às mesmas regras. E aceitam os resultados.
Para não ser ingênuo, também é preciso reconhecer que a hipocrisia corre solta nessas ocasiões. No Mundial de 2018, por exemplo, o senhor Vladimir Putin saudou os visitantes e disse que aquela reunião futebolística na Rússia serviria para o fortalecimento da paz e da compreensão entre os povos. Agora, foi a vez do emir Tamim bin Hamad al-Thani falar em diálogo entre pessoas diferentes, de nacionalidades diferentes, de culturas diferentes e de orientações diferentes, quando todos sabemos que seu governo não é nada tolerante com as diferenças.
Ainda assim, mantenho a esperança de que a pausa para o futebol atenue a irracionalidade dos belicosos e os faça perceber que podemos, sim, promover reuniões da família humana sem que algum parente saia de mal com o outro. Mais do que isso: podemos encontrar muitas convergências neste encontro de diferentes, entre as quais uma que está na pauta de todos os dias: a urgente necessidade de mais cuidados com a "tenda" planetária.
No contexto local, acredito que a Copa também nos ajudará na pacificação do país e no resgate das cores nacionais para a parcela da população que ainda se constrange em usá-las, por motivos que todos conhecemos. Somos todos habitantes do Planeta Bola, mas alguém terá que guardar a taça até o próximo encontro.
Com todo o respeito aos demais, o Brasil já está habituado.
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