22 DE NOVEMBRO DE 2022
CARPINEJAR
A sexta estrela no calção de Neymar
Em nossa história, sempre tivemos atacantes provocadores, zombeteiros, megalomaníacos, que chamavam o dever para si, que desafiavam os adversários, que mexiam com o psicológico da torcida na véspera dos clássicos. Lembro-me de dois célebres, ambos com Maravilha de apelido: Dadá e Túlio.
Antes das decisões, eles cantavam vitória, prometiam gol, debochavam dos seus marcadores. Eram flautistas folclóricos. Túlio se autodeclarava "Cristo Redentor do Rio", próximo do messianismo. Dadá, o mais engraçado, chegava a dizer que não havia tido tempo de aprender a jogar futebol porque passara a vida fazendo gol.
Pois, em meio à seriedade, à discrição e ao silêncio da concentração do nosso plantel na Copa do Catar, baixou o santo da troça em Neymar. Ele postou em suas redes sociais o seu calção com seis estrelas, antecipando um hexacampeonato.
O jogador mais famoso do mundo provocou a ira da imprensa internacional. Após a controvertida publicação, o jornal alemão Bild caracterizou a atitude como "ataque de arrogância".
O calejado Neymar não iria bancar o engraçadinho com chalaça aleatória em semana crucial de estreia. Ele sabe onde está se metendo. Não seria tão inconsequente a ponto de convocar o favoritismo, ciente do quanto o salto alto causa antipatia nos rivais e serve de munição na preleção do vestiário. Ainda mais correndo o risco de encontrar Portugal ou Uruguai nas oitavas, Alemanha nas quartas e Argentina na semifinal. Existe unicamente pedreira no lado da chave do Brasil.
Ele deve estar voando mesmo. Só pode ser sinal de extrema e irretocável confiança em seu preparo físico e mental. Porque já seria naturalmente caçado em campo, agora atrairá ainda mais a perseguição para a sua chuteira laranja e dourada.
Talvez seja um estratagema refinado para atrair publicamente a atenção dos defensores, deixando assim livres seus colegas na frente do goleiro. O que não acredito é que ele tenha sido sem noção, sofrendo um ataque episódico de estrelismo.
Pela primeira vez, está assumindo a condição de protagonista, com a moral elevada e blindada. Não será o cai-cai de Copas anteriores ou o coadjuvante de luxo que não foi capaz de carregar o piano nos momentos extremos de desvantagem (como na queda diante da Bélgica).
Ninguém, em sã consciência, dispararia essa profecia otimista para 182 milhões de seguidores se não estivesse em ponto de bala. O fato de a competição ser em novembro e dezembro - no meio das competições europeias, num período de exceção -, não mais em junho e julho - no esgotamento do final da temporada -, pode ser um indicativo de que teremos pela frente outro Neymar.
Será Neymaravilha?
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