02
de junho de 2014 | N° 17816
L.F.VERISSIMO
MISTER GLAZER
Morreu
o sr. Malcolm Glazer. Mister Glazer não estaria jogando na Copa. Mister Glazer
nunca jogou futebol na vida. Era um homem de negócios, grandes negócios, mas
isto também não é razão para ele estar sendo citado aqui, nestes preâmbulos da
Copa, neste período de espera nervosa da Copa em que qualquer assunto é
assunto. Mister Glazer é assunto porque ele era o dono do Manchester United.
Também
era dono de um time de futebol americano, mas isso não era incomum, todos os
times de futebol profissional nos Estados Unidos têm donos milionários, ou pelo
menos pertencem a empresas. A novidade foi um americano tornar-se dono de um
dos clubes mais tradicionais e populares da Inglaterra, onde, como no Brasil,
os clubes são propriedade pública, não pertencem a ninguém – muito menos a um
americano!
A
torcida do Manchester não aceitou. Protestou, queimou mister Glazer em esfinge,
ameaçou abandonar o time. No fim se acalmou. Muita gente ainda liga um certo
declínio do futebol do Manchester United – que ultimamente não tem sido o que
foi – à presença do americano. Mas a revolta amainou. Colaborou para isso o
fato de mister Glazer ser apenas um dos primeiros de uma lista de donos
estrangeiros – russos e árabes principalmente – de clubes europeus.
Ele
foi um dos inauguradores da fase que vivemos agora, em que o poder, no futebol,
passou do vínculo emocional do clube com a torcida e desta com o time, para
patrocinadores e empresários. A gente fala mal do mercantilismo da Fifa, mas
ela só está sendo moderna. Amadores, fora.
A
força nova dos empresários de jogadores, especialmente, mudou o futebol. Para
melhor, num certo sentido, porque alterou a relação profissional do jogador com
o clube e aumentou seu poder de barganha. Para pior porque jogador virou
mercadoria, e toda vez que transformamos gente em mercadoria nos desumanizamos
mais um pouco.
Assim
como não tem nada a ver com esta Copa, mister Glazer não teve nada a ver com a
revolução que ajudou a fazer meio sem querer. Ele não comprou uma história, uma
paixão ou nada parecido, comprou uma grife. E, imagino, ganhou muito dinheiro.