06
de junho de 2014 | N° 17820
VERÍSSIMO
NA COPA
A VINGANÇA
Eu
sei, eu sei. Onde cada seleção vai jogar e contra quem foi decidido pelas
bolinhas, sem interferência humana ou de qualquer outra vontade, natural ou
sobrenatural. Mas não posso deixar de desconfiar de que houve uma combinação de
divindades – os deuses do acaso, as forças ocultas do Universo, a Fernanda Lima
– para orientar o sorteio e influenciar a decisão. A motivação do conluio:
fazer justiça. Seu objetivo: vingança.
Na
Copa de 1994, nos Estados Unidos, a tabela mandou que a Seleção Brasileira cruzasse
o país mais de uma vez, ziguezagueando do oeste para o leste e de volta para o
oeste como se alguém ou alguma coisa estivesse querendo nos impressionar com o
tamanho e a diversidade do país, com o seu potente passado e o seu domínio do
futuro.
O que parecia simples capricho da sorte na verdade era ostentação. A
seleção foi de Los Gatos, na Califórnia, pequena cidade no Vale do Silício com
a maior renda per capita da America, símbolo de tecnologia e de dinheiro novos,
para Detroit, no leste, cuja decadência evocava sua antiga força industrial
agora enferrujada, e daí para a calorenta Dallas, onde mataram o Kennedy, o que
não deixava de também ser uma exibição de poder.
O
Brasil estreou no estádio da Universidade de Stanford, uma das melhores do mundo
e, mesmo tonto de tanto viajar, acabou, triunfante, em Los Angeles, levantando
a taça do desagravo para mostrar que não tínhamos nos deixado humilhar. Os
Estados Unidos podiam ser grandes mas nós tínhamos o Dunga.
Não
que as idas e voltas da Seleção não tenham sido curtidas. Em Los Gatos era
revigorante saber que você estava respirando o mesmo ar dos bilionários. E em
Dallas, onde era aconselhável não sair na rua para não voltar assado, ficamos
(ou a imprensa ficou, o time não me lembro) num hotel com um certo encanto
sulista, na zona – ficamos sabendo só depois de instalados – gay da cidade. O
hotel tinha principalmente um ótimo bar com uma ótima cantora negra, e era onde
nos refugiávamos do inferno lá fora.
Mas
o fato é que, dispensadas as amenidades, a tabela da Copa de 94 nos foi cruel.
E agora surgiu a possibilidade da vingança. Pelo que sei, a seleção dos Estados
Unidos será a que mais viajará pelo Brasil durante a Copa. E os americanos
ficarão sabendo o que é um país grande e diversificado. O único risco, claro, é
a tabela vingativa ter o mesmo efeito da tabela de 1994, e os Estados Unidos
acabarem campeões do mundo.