sábado, 14 de junho de 2014


14 de junho de 2014 | N° 17828
VERISSIMO NA COPA | L.F.VERISSIMO

A SOLIDÃO DOS CENTROAVANTES

Vi o Fred contra a Croácia na quinta-feira e o Eto’o contra o México ontem e pensei no que poderia ser feito para acabar com a solidão do centroavante. É uma solidão de eremita, de faroleiro, de náufrago de cartum. Ninguém é mais sozinho do que um centroavante. Ele está sempre cercado de gente, mas são inimigos. É um isolado na multidão, um paradoxo de chuteiras. Seus companheiros não lhe dão bola, literalmente.

Quando dão, a bola chega tinindo, intratável, exigindo sua atenção mas só lhe dando segundos para providenciá-la. Na maior parte do tempo, ele é um Robinson Crusoé antes da Sexta-feira, sem salvação no horizonte. Por isso, somos tolerantes com os centroavantes. Não os julgamos como se julga os outros homens. Não exigimos nada deles a não ser seu sacrifício solitário. E gols, claro. Mas deve haver uma maneira de resgatá-lo da sua dolorosa solidão, pensei.

Ontem também, no jogo Holanda x Espanha, vi duas formas possíveis de caridade com os centroavantes. A Espanha, com seu famoso toque-toque, nunca deixa seu centroavante sozinho. O time chega sempre junto ao seu centroavante, em comitiva. Lhe traz mantimentos, notícias de casa e conforto espiritual. Participar da finalização de um toque-toque coletivo é uma maneira do centroavante se integrar ao jogo e não se sentir abandonado.

É verdade que quando o toque-toque não funciona, o centroavante desaparece também. Mas pelo menos desaparece entre amigos. Já a Holanda tem um Van Persie que se fixa na grande área como um centroavante clássico, mas frequenta o resto do campo com a mesma naturalidade. O centroavante da Holanda nunca se sente só, ou quando se sente vai atrás de companhia. Claro que Holanda 5 e Espanha 1 foi um jogo tão atípico que não prova nada. Foi um jogo à prova de teses e conclusões apressadas. Mas pelo menos nota-se uma preocupação, no futebol moderno, em diminuir o sacrifício dos centroavantes.

A vitória da Holanda só serviu para aprofundar um mistério que me intriga. Por que o Robben, que vem jogando o que jogou ontem há muito tempo, pelo seu país e pelo Bayern de Munique, nunca foi lembrado como melhor jogador do mundo? Existe alguém no mundo que jogue mais do que ele?