15 de junho de 2014 | N°
17829
CÓDIGO DAVID | David
Coimbra
O ataque do esquilo assassino
Tem muito esquilo por aqui. Estou
em Boston, Massachussetts. Gosto desse nome, Massachussetts. É um nome que
substitui o bafômetro. Experimente pronunciá-lo depois de uma noitada de chopes
cremosos. Se você conseguir, pode pegar o carro. Se não passar do “Massa”,
chame o táxi.
Pois em Massa... chussetts tem
muito esquilo. Sabia da popularidade do esquilo nos EUA, mas não esperava
encontrá-los com tanta frequência. Encantei-me com o primeiro que vi. Quis
tirar foto, mas ele foi mais rápido, subiu pela árvore e despareceu. Esquilo é
rápido. Depois, comecei a ver esquilo a toda hora, não achei mais graça.
Outro dia, caminhava por uma
avenida movimentada e um esquilo veio correndo na minha direção. Mas veio
mesmo, firme, decidido, direto para mim. Estaquei. Qual seria a intenção
daquele esquilo? Atacar? Esquilos atacam? Pensei no Tico e no Teco. Esses não
atacam. São inofensivos, só querem saber das suas nozes e de encher o saco do
Donald. Mas aquele esquilo, não. Era agressivo, definitivamente.
Vinha disparado, muito veloz,
balançando seu rabo de escova de patente. Pensei: vou chutá-lo, rato maldito,
não deixarei que você suba pelas minhas pernas e crave estes seus dentões de
Drácula no meu pescoço! Estava pronto para reagir, mas, a um passo de
distância, ele desviou para a esquerda e perdeu-se num jardim. Suspirei de
alívio. Só o que faltava eu entrar em luta corporal com um esquilo nos EUA. Não
seria uma boa. Os americanos decerto ficariam do lado do esquilo. Esquilo x
brasileiro? Esquilo, esquilo.
JOÃOZINHO PROFUNDO
Esquilo em inglês é squirrel.
Dificílimo de dizer. “Squaill”. Eu, pelo menos, não consigo. É como world ou
girl. Tranco quando falo. De resto, considero bela a língua inglesa. Normal que
se mescle com outras. Até entendo nossos compatriotas puristas, defensores da
última flor do Lácio, inculta e bela, mas como chamar o mouse do computador de
“rato”, por exemplo? Não dá. Por isso, não culpo quem substitui tele-entrega
por delivery e passarela por catwalk. Catwalk não é demais? Um lugar por onde andam
as gatas...
Quer ver? O nome daquele ator,
Johnny Depp. Sempre achei que fosse Deep. Em português, seria Joãozinho
Profundo. Será que as mulheres gostavam tanto dele por causa dessa
profundidade? Em português seria um nome ridículo, Joãozinho Profundo, mas em
inglês... Aí tem! Teci inúmeras teorias. Agora descobri que é Depp, que
significa, apenas, Depp. Uma letra mudou tudo. Johnny perdeu o encanto para
mim.
LUVAS BRANCAS
Mas ainda que o inglês seja cheio
de sutilezas e fascínios, é um exagero brasileiro isso de querer que todos
falem inglês por causa da Copa. Os 4 mil taxistas de Porto Alegre tinham de
falar inglês? Bobagem. Precisa apenas que quatro ou cinco atendentes do
rádio-táxi tenham o domínio da língua.
No Japão, tomei um daqueles táxis
limpíssimos, o motorista de luvas brancas e tudo mais. Disse para onde queria
ir e ele me olhou com a maior cara de sashimi de salmão. Natural, a maioria dos
japoneses não fala inglês. Mas ele não se assustou. Pegou o rádio, falou com a
atendente e passou o rádio para mim. Disse o endereço para a moça, devolvi o
rádio para ele, a moça traduziu e fomos embora. Cheguei direitinho.
A mesma coisa os restaurantes. Os
garçons não precisam falar inglês. Basta ter um menu bilíngue, o gringo escolhe
o que quiser e aponta com o dedo. Para pedir a conta, faz aquele gesto clássico
com a mão. Para ir ao banheiro, é só olhar o bigode desenhado na porta dos
homens, o batom desenhado na porta das mulheres e entrar. Do que mais precisa
um turista além de se deslocar e comer? Namorar? Bem, a língua do amor é
universal.
SEXO COM GOLFINHOS
A BBC apresentou um documentário
sobre uma mulher que, em 1960, passou 10 meses em um aquário, tentando ensinar
um golfinho a falar inglês. É sério isso. A tal casa-aquário ficava nas Ilhas
Virgens, que são dos EUA. O golfinho se chamava Peter e ela, Margareth. Ele não
aprendeu inglês, mas acabou FAZENDO SEXO COM A PROFESSORA.
Será que ainda existem cursos de
inglês assim por aqui? Moral da história: se um golfinho se deu bem, por que
não um nigeriano ou um holandês desses que chegarão a Porto Alegre sem falar
lhufas de português?
O VELHO GRAMPEADOR
Que bela invenção esse Skype.
Serve de analgésico para a saudade. Evita de o cara querer beber para esquecer.
Os espanhóis, quando se embrenharam nas Américas em busca de ouro, ouro, ouro,
sofriam de saudade de suas famílias e amigos, e o que faziam? Enchiam a cara.
No outro dia, continuavam com saudade, só que estavam com ressaca também.
Descobriram então que os índios conheciam uma beberagem que diminuía os efeitos
da ressaca e clareava as ideias. Foi assim que surgiu o nosso bravo chimarrão.
Já eu, como tenho Skype, posso
ver meu filho todos os dias, que ele ainda não veio para cá (virá!). Ele fala
comigo da mesa em que eu trabalhava. Esses dias, para me fazer um agrado, pegou
o grampeador, levou-o para frente da câmera e disse:
– Papai, tu deve estar com
saudade do teu velho grampeador. Olha pra ele.
Matei a saudade do meu velho
grampeador num instante. Mas a do meu filho aumentou. Fui beber como um
espanhol.