15 de junho de 2014 | N°
17829
PAULO SANT’ANA
A tourada do Corso
Fico imaginando como as pessoas
que são indiferentes ao futebol ou até as que o detestam estão reagindo intimamente
a este bombardeio de Copa do Mundo que estão sofrendo pela televisão e pelos
jornais.
A Copa chegou até ao exagero de
atingir o horário de novelas na televisão, um verdadeiro sacrilégio.
Vou dar um exemplo grosseiro:
digamos que em vez de futebol o bombardeio fosse de lutas de judô nas
Olimpíadas. Eu não resistiria e me mudaria para outro mundo.
É o que está acontecendo na Copa
do Mundo. As pessoas que a detestam ou são indiferentes a ela viram seus
códigos de comunicação violados durante 32 dias.
É a ditadura do futebol.
E, como se diz que o mundo
inteiro adora o futebol, é a ditadura da maioria esmagadora de preferência
contra a minoria esmagada.
A Fifa se organizou mesmo e fez
lotar todos os 12 estádios brasileiros que sediarão os jogos da Copa.
Até os jogos que poderiam ser os
mais desinteressantes serão vistos por estádios lotados.
A Fifa vai se locupletar em suas
finanças com esta Copa.
Valeu a pena para a Fifa que
tivesse de lutar tanto para que as obras da Copa fossem concluídas.
Valeram a pena os pitos da Fifa
ao Brasil pelas demoras nas conclusões das obras.
Com a goleada obtida sexta-feira
sobre a Espanha, a Holanda se erigiu como uma das favoritas para a conquista do
Mundial.
A Holanda já ganhou três vezes o
vice-campeonato mundial. Quem sabe não será este o ano do seu título máximo?
Golear um atual campeão mundial
não é para qualquer um.
O psicanalista Mário Corso
escreveu quinta-feira neste jornal uma coluna estupenda. Um trecho dela sobre o
vício do cigarro: “Se existe algo que aprendi com o cigarro é não menosprezar
sua força e o preço que os fumantes estão dispostos a pagar. Tingir de morte o
seu prazer, como a medicina explica e agora está impresso em qualquer maço, ao
meu ver pouco ajuda. Talvez só denote o que ele é, uma tourada contra a
finitude, desafiando e chamando a morte a cada tragada”.
Sensacional!