ALEXANDRE
SCHWARTSMAN
Pibículo
'Pibículo'
rima com 'ridículo', expressão que define bem o desempenho do país nos últimos
anos
Ouvi
(na verdade li) essa expressão de uma amiga e na hora me encantei. Não usamos
tanto essa forma de diminutivo (preferimos o "inho", para diversão
dos vizinhos latino-americanos; às vezes o "ito" ou ainda o
"ico"), mas, assim como "corpúsculo", "pedúnculo"
e "homúnculo", "pibículo" captura perfeitamente a dimensão
diminuta, não só do ocorrido no primeiro trimestre mas principalmente do que
nos espera à frente.
De
fato, a expansão de apenas 0,2% na comparação com o final de 2013 (já corrigida
a sazonalidade) é reveladora da nossa fraqueza. Mesmo com a revisão para cima
do aumento do PIB no ano passado (de 2,3% para 2,5%), pela incorporação de
medidas mais atualizadas da produção industrial, o que se observa é a virtual
estagnação do país nos últimos nove meses, quando o crescimento médio ficou em
0,1% ao trimestre.
Em
que pese a perda de fôlego do consumo das famílias no começo deste ano, o
"pibículo" no período mais recente não pode ser atribuído apenas a
esse fenômeno, mas, principalmente, ao desempenho lastimável do investimento.
Segundo
os dados agora revisados, registramos a terceira queda consecutiva da formação
de capital, que acumula redução de mais de 5% desde o segundo trimestre do ano
passado.
Trata-se
de um problema crucial. Em parte porque, no curto prazo, o investimento é um
dos elementos cruciais para a determinação do ritmo de expansão da demanda
interna; as consequências mais sérias, porém, dizem respeito à nossa capacidade
de crescimento de longo prazo.
Medido
como proporção do PIB, o investimento, que já não era particularmente
brilhante, vem caindo de forma consistente: havia atin- gido o pico de 19,5% do
PIB ao fi- nal de 2010 e agora marca 18,1% do PIB nos últimos quatro
trimestres. Essa redução implica menor ca- pacidade de crescimento à frente, um
impacto negativo da ordem de 0,5% ao ano.
Em contraste,
o consumo do governo ultrapassou 22% do PIB no período, o nível mais elevado da
série histórica iniciada em 1995, consolidando o Brasil como um dos poucos
países em que essa grandeza supera o próprio investimento.
Não
por acaso, a poupança doméstica atingiu novos recordes de queda, levando a um
novo milagre às avessas: apesar do baixo investimento, o deficit externo
aumentou, alcançando seu maior valor desde 2001.
Por
outro lado, a divulgação do PIB permite novas estimativas da expansão da produtividade
do trabalho. Ignorando as flutuações cíclicas dessa medida, chegamos a um
número inferior a 1% ao ano (0,8% ao ano, caso queiram saber), também o mais
baixo dos últimos 11 anos.
Isso
dito, se o passado não nos traz motivo de orgulho, tampouco o faz o futuro
imediato. À luz do resultado do primeiro trimestre, assim como indicações de
fraqueza nos dados já disponíveis para o segundo trimestre, fica claro que
mesmo uma expansão do PIB na casa de 1,5% para este ano, como sugerido pela
pesquisa Focus, do BC, parece improvável, pois requereria uma aceleração
notável na segunda metade do ano.
Tudo
indica que nos encaminhamos para um número mais perto de 1% do que 1,5% em
2014. Se confirmado, o crescimento médio do PIB no governo Dilma ficaria em
1,8% ao ano, o pior desempenho desde a estabilização da economia.
Eis
o resultado da "nova matriz econômica", anunciada com fanfarra há
alguns anos, e hoje pouco defendida, seja pelo governo, seja pelos nossos
"keynesianos de quermesse": crescimento medíocre, inflação em alta,
desequilíbrio externo, queda do investimento e desarrumação geral da economia.
Pensando
bem, meu encantamento pelo "pibículo" vai além do diminutivo pouco
usual, ainda que preciso; rima com "ridículo", esta sim uma expressão
que define bem o desempenho do país nos últimos anos, assim como o modelo de
política econômica adotada no período, além, é claro, de descrever exatamente o
que penso dos formuladores e defensores dessa política.