VINICIUS
TORRES FREIRE
Dilma, piada e mau humor
Presidente
afirma que mau humor passa em novembro, como se nada tivesse a ver com o
assunto
DEPOIS
DA ELEIÇÃO, em novembro, o clima negativo vai passar, disse Dilma Rousseff a
empresários e altos executivos, segundo relatos deles próprios, num encontro
reservado. A depender da versão, a presidente teria dado mais ou menos ênfase
ao efeito da disputa eleitoral no ambiente social e político, que por sua vez
teria deteriorado a confiança na economia. Passada a eleição, a "disputa
política", o ambiente desanuviaria.
Pode
ser. Mas de onde vem o mau humor? De uma epidemia de enxaqueca? Do clima seco?
De um surto de alheamento da realidade, que levou consumidores e empresários a
enxergar arame farpado em ovo, dado que estaria tudo bem no país?
Quanto
ao clima político, das ruas à disputa partidária, é razoável aceitar a hipótese
de que a tensão, quando não exacerbação, tem afetado os ânimos. Que a tensão e
o desânimo podem estar em nível temporariamente exagerados, ao menos nos níveis
registrados nas pesquisas de opinião econômica.
No
mais, o argumento do governismo é oportunista e "ad hoc", como de
costume. O país cresceria a 6% ou 4%, era a história do governo até 2013. Não
cresceu. A culpa era da crise mundial, que no entanto está aí desde 2008. Antes
de o crescimento minguar sistematicamente, era o governo que ignorava os
efeitos da crise.
Agora,
o governo atribui o crescimento parco e minguante deste ano ao mau humor dos
"empresários", a quem no mais o governo tratou muito bem com muitos
subsídios e empréstimos a juros de pai para filho.
Essa
conversa fiada evidencia um equívoco constrangedor e primário a respeito do
funcionamento da economia e uma desconversa descarada sobre as condições
econômicas do Brasil nos últimos três anos.
Primeiro,
o governo acredita que a economia é movida à base de cenoura e porrete, de
agrados e castigos ao "empresariado".
Sinais
de preços, custos, expectativas de lucros ou outros incentivos, previsibilidade
de médio prazo ao menos, que no fundo influenciam a massa de decisões da
economia, não parecem relevantes. O negócio é administrar a demanda e rendas na
conversa com, digamos caricatamente, o "comitê da burguesia".
Na
ausência de incentivos e outras manhas da economia de mercado, num ambiente de
morosidade econômica, o que os empresários fazem é "capturar rendas",
garantir o seu e agir, no mais, de acordo com a economia real, que definha.
Segundo,
falar de "mau humor" (queda da confiança) como se se tratasse apenas
de um surto psicológico de causa desconhecida é um insulto final à inteligência
de quem observa a economia ao menos lendo jornais.
O
surto principal, na verdade foi de custos e juros, para nem mencionar os demais
impedimentos do funcionamento básico de uma economia de mercado (preços) ou da
areia que o governo jogou na engrenagem do investimento (público e privado).
A
confiança começou a declinar em 2012, ano e meio depois da posse de Dilma
Rousseff, muito antes da eleição, de junho de 2013 ou de outro fator
"social" ou "político". Teve a ver com a gestão econômica
deste governo, sim, embora não totalmente. Mas não foi um raio num dia de céu
azul.