sexta-feira, 6 de junho de 2014

Jaime cimenti

Os textos e as revelações de Sebastião Nery

Sebastião Nery é um dos maiores e mais polêmicos jornalistas brasileiros. Talvez seja o mais polêmico. Com 82 anos, nascido na Bahia, é do tempo em que os profissionais da imprensa não tinham as facilidades do telefone, internet e, principalmente, do onisciente e instantâneo Dr. Google. Nery viu e viveu muita coisa nesses 60 anos como personagem e observador da cena política brasileira.

 Tornou-se um cronista por excelência, escrevendo artigos e reportagens com base em vivências e em sua vasta cultura. Nos anos 1970, Nery, que foi deputado e fiel escudeiro de Leonel Brizola e adido cultural em Paris no governo Collor, ficou famoso por uma série de livros sobre casos do folclore político. Por seu estilo independente, foi processado, preso, teve direitos políticos cassados e foi perseguido pela polícia política e por “patrulheiros ideológicos”.

Ninguém me contou, eu vi - De Getúlio a Dilma, coletânea de artigos, ensaios e reminiscências de Sebastião Nery, há poucos dias lançado (Geração Editorial, 528 páginas, R$ 54,90) cobre o período de 1954 a 2013 e fala de fatos que Nery viu ou participou. Nery estava por perto no suicídio de Getúlio, na primeira hora do golpe militar de 1964 e estava no centro dos acontecimentos quando Jânio Quadros renunciou.

Com sua habilidade para observar e com textos sedutores, Nery traz biografias, fatos e revelações envolvendo os grandes nomes da política brasileira. Conta como viu o mensalão nascer, momentos de intimidade da presidente Dilma, bastidores da decisão de Itamar para concorrer a vice-presidente, fatos cotidianos e biografias de Juscelino, Getúlio Vargas, Tancredo, Delfim Neto, Magalhães Pinto, Petrônio Portella e muitos outros. Uma longa entrevista com o grande jornalista Hélio Fernandes é um dos pontos altos do livro.

Nery conta histórias de sua própria longa vida, de como sua paixão pelo jornalismo o levou a abandonar o seminário e, nas páginas finais, fala de verdade, política, liberdade e cita Ortega y Gasset: “ser da esquerda, como ser da direita, é uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser imbecil: ambas são formas de hemiplegia moral”.


Para Nery, intelectual é sinônimo de liberdade, de independência e o primeiro dever de quem fala, escreve e participa da vida coletiva é a coragem de ser livre, para dizer o que pensa porque sabe o que diz. Nery é contra autoritarismos de direita ou esquerda e a favor da coragem de dizer não. É contra as cangas, os cabrestos e as mediocridades de todo tipo.