Jaime
cimenti
Os textos e as revelações de
Sebastião Nery
Sebastião
Nery é um dos maiores e mais polêmicos jornalistas brasileiros. Talvez seja o mais
polêmico. Com 82 anos, nascido na Bahia, é do tempo em que os profissionais da
imprensa não tinham as facilidades do telefone, internet e, principalmente, do
onisciente e instantâneo Dr. Google. Nery viu e viveu muita coisa nesses 60
anos como personagem e observador da cena política brasileira.
Tornou-se um cronista por excelência,
escrevendo artigos e reportagens com base em vivências e em sua vasta cultura.
Nos anos 1970, Nery, que foi deputado e fiel escudeiro de Leonel Brizola e
adido cultural em Paris no governo Collor, ficou famoso por uma série de livros
sobre casos do folclore político. Por seu estilo independente, foi processado,
preso, teve direitos políticos cassados e foi perseguido pela polícia política
e por “patrulheiros ideológicos”.
Ninguém
me contou, eu vi - De Getúlio a Dilma, coletânea de artigos, ensaios e
reminiscências de Sebastião Nery, há poucos dias lançado (Geração Editorial,
528 páginas, R$ 54,90) cobre o período de 1954 a 2013 e fala de fatos que Nery
viu ou participou. Nery estava por perto no suicídio de Getúlio, na primeira
hora do golpe militar de 1964 e estava no centro dos acontecimentos quando
Jânio Quadros renunciou.
Com
sua habilidade para observar e com textos sedutores, Nery traz biografias,
fatos e revelações envolvendo os grandes nomes da política brasileira. Conta
como viu o mensalão nascer, momentos de intimidade da presidente Dilma,
bastidores da decisão de Itamar para concorrer a vice-presidente, fatos
cotidianos e biografias de Juscelino, Getúlio Vargas, Tancredo, Delfim Neto,
Magalhães Pinto, Petrônio Portella e muitos outros. Uma longa entrevista com o
grande jornalista Hélio Fernandes é um dos pontos altos do livro.
Nery
conta histórias de sua própria longa vida, de como sua paixão pelo jornalismo o
levou a abandonar o seminário e, nas páginas finais, fala de verdade, política,
liberdade e cita Ortega y Gasset: “ser da esquerda, como ser da direita, é uma
das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser imbecil: ambas são
formas de hemiplegia moral”.
Para
Nery, intelectual é sinônimo de liberdade, de independência e o primeiro dever
de quem fala, escreve e participa da vida coletiva é a coragem de ser livre,
para dizer o que pensa porque sabe o que diz. Nery é contra autoritarismos de
direita ou esquerda e a favor da coragem de dizer não. É contra as cangas, os
cabrestos e as mediocridades de todo tipo.