01
de julho de 2014 | N° 17846
VERÍSSIMO
NA COPA
JOGO DE
CÃIBRAS
Alemanha e Argélia provaram: jogo com muitas cãibras
é jogo emocionante. Em número de jogadores que acabaram a partida sem pernas,
prevaleceu a saúde e a melhor alimentação desde a infância dos alemães, mas a vantagem
foi pequena. As cãibras contam a história do jogo. Sensacional.
INVEJA
A
inveja é um sentimento baixo. É um dos pecados capitais, e consiste em desejar
o que os outros têm e nós não temos, seja felicidade, beleza, simpatia,
popularidade, conta na Suíça ou – no caso do futebol – no meio de campo. Vendo
o jogo da França com a Nigéria, ontem, senti que a inveja me invadia como um
veneno. Tentei reagir, apelar para meus melhores sentimentos, me convencer que
o que eu sentia era torpe e tóxico, mas em vão. A inveja me ocupou de cima a
baixo, devo ter rosnado de inveja. E o que eu invejava era o meio-campo da
França. Invejava Cabaye, Matuidi e Pogba.
Sim,
tenho vergonha de dizer que bradei aos céus contra aquela injustiça, a França
ter Cabaye, Matuidi e Pogba, e o meu time não ter nada parecido. Todos os
ataques da Nigéria tinham que passar por Cabaye, Matuidi e Pogba para chegar na
grande área da França e todos os ataques da França passavam por Cabaye, Matuidi
e Pogba a caminho da grande área da Nigéria. Isso é que se chama de um
meio-campo presente e não aquele vácuo no meio da nossa Seleção. Terminado o
jogo me resignei: o mundo é desigual, e a ultima coisa que o destino pensa
quando distribui as camisetas é em equanimidade, que ele provavelmente nem sabe
soletrar. Mas não posso deixar de sonhar. Ah, Cabaye, Matuidi e Pogba no meu
time...
ADRIANA
Teve
gente que discordou da minha opinião sobre reconhecimento do campo, aquela
prática inútil do time ir com antecedência a um estádio em que nunca jogou para
se familiarizar com a grama, as arquibancadas etc . Entre os que protestaram
estava a Adriana Calcanhoto. Na sua coluna de O Globo, há dias, a querida
Adriana argumentou que o “reconhecimento” pode ser inútil para o time, mas
inspirador para um jogador que vê o estádio vazio como uma tela em branco na
qual ele se projeta como vencedor, herói do jogo que se aproxima, e vê sua
própria vida e sua luta até o momento de entrar no estádio cheio, para brilhar.
O
“reconhecimento” seria um instante ao mesmo tempo de concentração e devaneio.
Impossível não concordar com interpretação tão poética. Mesmo porque, diante
daqueles olhos, é impossível não dar tudo à Adriana. Inclusive razão.