07
de julho de 2014 | N° 17852
ARTIGOS
- PAULO BROSSARD*
COISAS DA COPA
Neymar,
a grande figura da Seleção Brasileira n a C opa do Mundo, sofreu uma fratura da
terceira vértebra lombar, em consequência de joelhaço que o atingiu por parte
de um lateral da Colômbia. A brutalidade foi documentada no início, meio e fim,
uma vez que reproduzida pela generalidade dos meios de comunicação, nacionais e
estrangeiros, de forma que a ocorrência e o modo como ela ocorreu foram
fartamente difundidos.
Embora
não seja possuidor da paixão pelo futebol, não ignoro que há normas cogentes a
disciplinar a lisura da ação esportiva; é pacífico que a agressão em campo é incompatível
com elas. Ora, em várias disputas eu vi, com os meus olhos, cenas nada
esportivas e inequivocamente violentas em meio à paralela leniência dos juízes.
E
isso na Copa do Mundo. Vê-se que o resultado se tornou público no lamentável
caso de que foi vítima Neymar, que pode não ter sido de alta ou perene
gravidade, mas que o tirou do campo, privando a Seleção Brasileira por algum
tempo de personagem de marcada primazia, exatamente no momento crucial das
finais.
Admitir
como lícita a agressão capaz de gerar impedimento efetivo de esportista por
algum tempo, dias, semanas, ou até meses, seria legitimar a violência mais
ostensiva, com a agravante de ter ocorrido perante os olhos do mundo. Enfim, não
perdeu a atualidade a sentença castelhana, segundo a qual “Al valiente no quite
el cortés”.
Sem
prejuízo dessa mácula, é de ser considerada bem-sucedida a copa mundial
realizada entre nós. Pode-se dizer, sem exagero, que os êxitos já verificados
garantem o bom sucesso da iniciativa, a qual altera de tal modo a vida nacional
de forma a permanecerem todos, brasileiros e estrangeiros sem conta, sob o império
da Copa, como se submetidos ao fascínio do futebol, convertido na secular lei
da terra.
Contudo,
é de lastimar o fato, inegável e notório, da coincidente estagnação nacional,
consórcio da inflação com a paralisação econômica, e que não é segredo para
ninguém, quando se reconhece e se afirma que a indústria está em crise, ainda
que o setor agroindustrial, tantas vezes injuriado, venha respondendo pelo alívio
ainda visível do conjunto.
A
partir da festa final no próximo domingo, não será surpresa se os incômodos de
certa forma afastados e momentaneamente quase esquecidos voltarem a ocupar as
preocupações do cotidiano, recolocados no proscênio dos acontecimentos. Não me
sinto à vontade para indicá-los e me limito a aludir ao que me parece poderá ocorrer
nessa fase.
*JURISTA,
MINISTRO APOSENTADO DO STF