21 de julho de 2015 | N° 18233
LUIZ PAULO VASCONCELLOS
A TRAGÉDIA GREGA
A Grécia legou ao mundo três coisas fundamentais: a
Filosofia, ou seja, uma forma de pensar sem os limites impostos pelos dogmas
religiosos; a Democracia, ou seja, uma forma de convivência social em que os
opostos se reconhecem e se respeitam; e o Teatro, ou seja, uma forma de
vivenciar os horrores desta vida por meio de sua representação, sem culpa ou
risco de sofrermos sequelas. Com a prática da Filosofia podemos ampliar a
compreensão da realidade, explicar o que é uma causa, uma consequência, a razão,
a natureza, a sociedade ou a história.
Com a prática da Democracia podemos viver um regime político
baseado no princípio da soberania popular, na liberdade do ato eleitoral, na
divisão de poderes e no controle da autoridade. Com a prática do Teatro
podemos, entre outras coisas, ver as causas da Filosofia e as consequências da
Democracia representadas no corpo e na voz do ator. O que move o Teatro é o
conflito, o enfrentamento dos opostos, princípio básico da Democracia; o que
resulta do Teatro é o pensamento sobre o mundo, sobre a vida, princípio básico
da Filosofia.
Pois essa mesma Grécia que nos proporcionou condições tão
fundamentais para a evolução da arte, da ciência e da política, vive agora uma
das piores situações de que se tem notícia nos últimos tempos: o risco de sair
da zona do euro como consequência do não pagamento de uma dívida. Mais uma tragédia.
A tragédia, no Teatro, deriva de um erro por ignorância, o
herói age sem saber que algo essencial está sendo omitido. Como é o caso de Édipo,
que matou o pai sem saber que era seu pai, casou com a mãe sem saber que era
sua mãe e depois, como rei de Tebas, decidiu pela punição do assassino do
antigo Rei, sem saber que ele próprio era o assassino do antigo Rei, seu pai. Coisas
que acontecem e que terminam em tragédia.
Agora, a Grécia, ao não pagar o empréstimo de 1,6 bilhão de
euros, fez de conta que não sabia que as principais líderes do Eurogrupo eram
Angela Merkel, chanceler da poderosa Alemanha, e Christiane Lagarde, diretora-gerente
do FMI. Resultado? Tragédia.