13 de julho de 2015 | N° 18225
MARCELO CARNEIRO DA CUNHA
VALE DO SILICONE
Uma das séries que menos me impressionaram ao surgir acabou
virando chiclete daqueles que grudam e não desgrudam. Silicon Valley me pareceu
adolescente demais, brincadeira demais, leve e solta demais para retratar o que
acontece no centro produtor de tudo que você toca quando pega o smartphone, o
tal Vale do Silício.
Pois, ao final da segunda temporada, este que vos atormenta
com essas pessimamente traçadas deve admitir o mais difícil para um ser vivo: erremo.
Silicon Valley era boa justamente por isso, por achar o grau certo de sarro
para retratar uma realidade tão bilionária quanto tola, tão infantil quanto
criativa, tão maluca quanto concentrada em produzir riqueza em uma escala nunca
antes vista.
O Vale do Silício deve ser um vale, imagino, mas não
necessariamente cheio de silício. Ele transborda mesmo é de tecnologia, a mão
que move o mundo no século 21. E tecnologia é algo jovem e movido por jovens,
gente que sai de uma universidade de ponta dotada de uma enorme capacidade de
programação, mas jovem demais para pensar nas consequências do que faz. O
resultado é riqueza e transformação sobre uma base tão movediça quanto a Califórnia
e suas falhas tectônicas. Silicon Valley dá conta, e muito bem, desse mundo.
O que acontece é que jovens talentosos do mundo inteiro se
mandam para a região ao redor de San Francisco, movidos pelo desejo de criar
alguma coisa, ganhar bilhões, e então esperar algum tempo para serem adultos o
suficiente para terem uma barba e ficarem parecidos com o Steve Jobs. Esse é o
plano, o único plano.
Mesmo assim, desse jeito um tanto descabeçado, funciona, e
se alguém duvida, a moça que trabalha de vez em quando colocando ordem na Mansão
Carneiro da Cunha acaba de enviar um WhatsApp informando que, sorry, mas não
vem amanhã. O WhatsApp foi vendido por US$ 19 bilhões, e era uma empresa com 50
funcionários, se não me engano, fazendo todos os jovens do Vale quererem ser o
próximo WhatsApp, e por aí vamos.
Silicon Valley é da HBO, aquela que quase nunca erra. Não
errou, e a terceira temporada vem por aí, com nossos desmiolados siliconados
seguindo em frente na sua luta para melhorar o mundo, um bit por vez.
E por aí vamos.