Sombras de 1964 sobre nós
DIVULGAÇÃO/JC
Livro entende que a ditadura de 1964 estende seus tentáculos até os dias de hoje
Os jornalistas Mylton Severiano da Silva e Palmério Dória já escreveram seus nomes na história do jornalismo brasileiro como testemunhas da História. Silva trabalhou na lendária revista Realidade, extinta pelo AI5 em 1968. Dória, entre outros feitos, escreveu o único livro existente sobre o pistoleiro Alcino João do Nascimento, envolvido no polêmico "atentado da rua Toneleros", que precipitou o suicídio de Getúlio Vargas em 1954. Os dois jornalistas documentaram as eras Sarney e FHC em livros de denúncia que chocaram o País e transformaram-se em best-sellers: Honoráveis bandidos e O príncipe da privataria.
Golpe de estado - O espírito e a herança de 1964 ainda ameaçam o Brasil (Geração Editorial, 264 páginas), nova obra dos dois jornalistas, lançada há poucos dias, entende que a ditadura de 1964 estende seus tentáculos até os dias de hoje, quando parte da população, insuflada pela mídia, bate panelas e desfila nas ruas com palavras de ordem bem parecidas, disfarçadas pelo necessário combate à corrupção.
Para os autores, a ditadura militar, instaurada pela elite civil que teria usado os militares para impor sua vontade, teria deixado como preço a educação sucateada, a violência policial crescente e as marchas reacionárias e desnorteadas. No relato contundente de 32 capítulos, Dória e Severiano condensam as duras memórias daqueles tempos e entendem que as sombras seguem a se estender sobre nós.
Para os autores, o autoritarismo, o conservadorismo, a manutenção das instituições políticas e jurídicas arcaicas e a destruição do patrimônio cultural, político e ideológico seguiram e seguem atuando, e agora com mais força.
No prefácio, o escritor e jornalista Fernando Morais escreve: "No último meio século, os dois colegas não fizeram senão jornalismo, contando histórias e a história do Brasil. Sem ter nascido em berços de ouro, sem dinheiro da Fundação Ford. Neste livro, Mylton e Palmério se baseiam na própria memória, nas publicações que fizeram, nos livros de colegas e em preciosos depoimentos de protagonistas e testemunhas, que trazem fatos inéditos ou jamais percebidos, para contar o que foi que os golpistas impediram o Brasil de ser".
Como se vê, trata-se de uma obra forte, lançada como um "sinal de alerta", segundo a orelha do livro, para que os leitores atuais relembrem fatos de nossa história recente. Figuras históricas como o presidente João Goulart (Jango) são resgatadas com novos contornos e definições.
A obra trata de problemas de crescimento econômico do Brasil e mostra como compramos automóveis, computadores, celulares e geladeiras da Coreia do Sul e seguimos vendendo ferro, soja, café, carne e outros produtos primários.