Jaime Cimenti
O Café do Porto e a Padre Chagas
O Café do Porto da Padre Chagas, um dos filhos da querida Cacaia Bestetti, acabou de completar, em 18 de julho, vinte gloriosos aninhos. É um guri, ainda, perto do Café Tortoni, de Buenos Aires, que nasceu em 1858, e do Café de La Paix, de Paris, que é de 1862, mas deixa a pátina do tempo ir caindo de leve, e o Café do Porto, que começou pequeno, numa garagem, vai continuando sua trajetória como uma instituição da cidade. É um café que mudou a Padre Chagas, o Moinhos de Vento e também Porto Alegre.
A Padre Chagas, segundo os registros imobiliários, tem cento e poucos anos e, antes do Café do Porto, do Jazz Café na Fernando Gomes (Calçada da Fama) e do saudoso Azteca, na Padre Chagas, há vinte anos, era uma rua com casas residenciais, edifícios de apartamentos e poucos prédios comerciais, com salas e algumas lojas. De noite e nos fins de semana, tinha pouca vida, a Padre, uma rua pequena, de aproximados 600 metros de extensão.
O Café do Porto e outros estabelecimentos que vieram depois deram vida e movimento ao bairro e, de quebra, estudos mostram que bares e restaurantes propiciam mais segurança aos moradores das redondezas.
Pois temos mais é que comemorar o aniversário do Café, como gosta de chamá-lo a Cacaia, e desejar campai, longa vida para ele, que já faz parte da nossa família e do nosso cotidiano. Ele é a continuação de nossa casa, de nossa sala, onde podemos encontrar parentes, amigos, conhecidos e desconhecidos, fazer novos amigos, inclusive novos amigos de infância, e onde podemos, claro, passar um tempo sozinhos, lendo, trabalhando, pensando ou simplesmente tomando espumante, vinho, cerveja ou refri, assistindo ao incomparável desfile das deusas da Padre Chagas, possivelmente a maior e melhor passarela de beleza do planeta.
Nas quartas-feiras, quando os músicos Cláudio Vera Cruz ou o Rosa Franco, afinados, tocam e cantam, a turma do Léo, Talasca, Papaléo, Telmo, Marcão, Zanatta, Adonis, Bresolin, Nonno e outros curtem uma happy por lá, sempre conversando sobre assuntos sérios e comportadíssimos, como convém a pais de família.
O publicitário, músico, cronista e escritor Rubem Penz vai ministrar uma oficina de crônica no Café do Porto, em versão café espresso, mas, imagino, sem prejuízo de outros líquidos que o Café tem para servir. Normalmente, as oficinas do Rubem são regadas a cerveja e outras bebidas, no Apolinário, e a combinação tem funcionado bem.
Pois é, o Café do Porto já está no rumo da maioridade, dos 21, e já se tornou patrimônio social, afetivo e gastronômico da gente. Deus o conserve, ilumine e lhe dê mais uns 100 anos de vida.
Sempre é bom lembrar que, assim como uma casa não é um lar, um prédio não é um café. Café que se preze tem que ter alma, história, pessoas, palavras, emoções e sensações no passado, presente e futuro. Tipo assim o Café do Porto.
A propósito...
Pesquisas recentes mostraram que o consumo moderado de café é saudável para o coração, além ser útil para fortalecer a imunidade, proteger o fígado, ajudar no diabetes, cálculos e prevenção de câncer e também para auxiliar na conservação da memória. Ah, pesquisa recente mostrou que duas ou três xícaras de espresso contêm cafeína suficiente para poder melhorar a situação de pessoas deprimidas, que são muitas atualmente. Mas deguste com moderação, beba devagarinho, curta o aroma, a aparência e o gosto do café, convide os parentes e amigos, consulte seu médico e seja cada vez mais feliz. Cafezinho, preferência nacional.