quarta-feira, 22 de julho de 2015



22 de julho de 2015 | N° 18234 
PEDRO GONZAGA

VITÓRIA

Se você for capaz de vencer, vença, mas não esgrima sua vitória contra os outros. Dentro do tempo, os perdedores serão sempre a maioria absoluta.

Se você se considera um vencedor, olhe para a galeria dos bem-sucedidos e veja como sorriem nas fotos os grandes comandantes. Repare em suas feições gordurosas, em seus olhos desprovidos de brandura. E repare também nos grandes magnatas: não confunda afetação com felicidade.

Se você almeja a vitória, leia outra vez o seu Álvaro de Campos. Os campeões em tudo talvez não vençam nos campeonatos jogados às sombras, os campeonatos dos amadores, a várzea em que se disputam com seriedade, por que não, somente as coisas inúteis, sem que ninguém lhes registre os placares: quantas horas passadas na cama nas manhãs de chuva, quantos espressos furtivos nos intervalos do trabalho, quantas conversas em que não se decidiu nada, em que não se lucrou nada, em que não se perdeu nada.

Se você precisa se sentir vitorioso, lembre que as livrarias estão cheias de livros que prometem prodígios. Estantes e mais estantes que garantem êxitos nas vendas e nas relações. Não quero empenar sua conquista, mas atente para o contrassenso numérico: se entregassem o prometido, as seções de autoajuda e de dietas não precisariam de mais do que um volume.

Se você quer ser alguém que vence, aprenda a fazê-lo com elegância. Faça de sua conquista, a conquista daqueles que estão ao seu lado. A vitória solitária é triste, quando não acompanhada de um acre sabor de revanche. Perdoe aos derrotados por terem tratado você como um. Perdedores orgulhosos também são ridículos, mas as câmeras não haverão de registrar suas caras arrogantes. Aprenda a subir ao pódio. 

No auge da vitória pública, guarde que a verdadeira é sempre a vitória íntima. Apenas essa não se apaga, apenas essa é certa, apenas essa é redentora. Ouça aqueles autores antigos que diziam que no dia da grande derrota – aquela que iguala vencedores e perdedores –, importa ter lutado não as lutas certas, mas ao lado das pessoas certas.

E depois perca. Perca tudo. Serenamente.