25 de julho de 2015 | N°
18237
ARTIGOS - ESTHER PILLAR GROSSI*
FALÁCIA
E BASE CURRICULAR PARA O BRASIL
Sem Campos
Conceituais, uma base curricular comum para todo o Brasil vai ser mais uma
falácia.
Detalhar
claramente, ano a ano, conhecimentos que todos os alunos têm direito de
aprender, sem compreender como é que eles podem aprender de verdade, vai ser
mais um incentivo à memorização imediata e transitória, sem a compreensão, que
é o que interessa e que é estável e permanente.
O que as
comunidades científicas mais atualizadas sabem sobre a construção, por exemplo,
dos primeiros conhecimentos matemáticos.
No ensino
convencional, os conhecimentos previstos são ordenados linearmente. Primeiro os
números (contagem, leitura e escrita de numerais), depois adição, depois
subtração, mais tarde multiplicação e por último a divisão. De acréscimo,
formas geométricas, sobretudo planas (quadrado, triângulo,
círculo...).
A primeira operação
aritmética pela qual alguém começa a aprender matemática é a divisão, e não a
adição.
Muito cedo, e
muitas vezes, as pessoas se defrontam com a necessidade de repartir coisas. Uma
criança que tenha três balas e receba mais uma não tem nenhum problema
matemático real para resolver. Mas se ela tiver que repartir irmãmente três
balas com outra criança, aí, sim, ela tem pela frente um desafio de âmbito
matemático, que ultrapassa até a esfera dos números inteiros, exigindo os
fracionários, pois ela terá que dar uma bala e meia para cada
uma.
Além do mais, a
divisão não se aprende isolada, sem números, adição, espaço e lógica, isto é,
num conjunto de conceitos. É isto que Gérard Vergnaud, o elaborador da teoria
dos Campos Conceituais, nos ensinou: não se aprende conceito por conceito e só
se aprende a partir de situações significativas do dia a dia ou bem organizadas
pela escola.
É animador que
essas ideias já estejam na ordem do dia da Academia em nosso país – acabo de
ser convidada para expor num colóquio internacional sobre Campos Conceituais,
em Minas Gerais.
O processo de
aprendizagem tem uma lógica própria: a lógica dos campos conceituais, linda,
criativa e engenhosa.
Seguindo-a é que
se ensina pra valer.