04
de junho de 2014 | N° 17818
FÁBIO
PRIKLADNICKI
VOCÊ É
ANTISSEMITA?
Passou
meio despercebida, no Brasil, uma pesquisa mundial sem precedentes sobre o
antissemitismo, divulgada em maio pela Anti-Defamation League, uma instituição
judaica norte-americana.
Depois
de 53 mil entrevistas com cidadãos de 102 países, em 96 línguas, os
pesquisadores estimaram que 26% das pessoas têm atitudes antissemitas. Ou seja:
uma em cada quatro. Equivale a um universo de 1,1 bilhão de indivíduos.
Como
os pesquisadores julgaram quem tem atitudes antissemitas e quem não tem?
Apresentaram aos entrevistados 11 afirmações com estereótipos (“Judeus são
responsáveis pela maioria das guerras no mundo”, “Judeus têm controle demais
sobre os assuntos globais” etc.). Quem concordou com pelo menos seis das 11
afirmações entrou para o índice.
Os
lugares mais hostis aos judeus são Cisjordânia e Faixa de Gaza (93%), Iraque
(92%), Iêmen (88%), Argélia (87%) e Líbia (87%). Os países mais amigáveis são
Laos (0,2%), Filipinas (3%), Suécia (4%), Holanda (5%) e Vietnã (6%). Nos Estados
Unidos, o índice é de 9%. O Brasil está em 81º lugar, com 16% de antissemitas,
assim como Cingapura, Islândia, Nigéria e Uganda.
É um
número baixo se comparado à maioria dos outros países, mas ainda considerável.
São 22 milhões de pessoas. Um bom índice seria 0%. O estereótipo judaico mais
aceito entre os brasileiros, com 57% de concordância, é: “Os judeus ainda falam
demais sobre o que aconteceu com eles no Holocausto”.
E
por que ainda se fala tanto na tragédia que dizimou 6 milhões? A resposta está
na pesquisa: duas em cada três pessoas nunca ouviram falar do Holocausto ou não
acreditam no relato histórico.
Quanto
mais os entrevistados superestimam o número de judeus no mundo, mais tendem a
ter atitudes antissemitas: 48% acham que correspondem a mais de 1% da população
mundial. Na verdade, os judeus são apenas 0,19%.
Mas
o número que mais me chamou a atenção foi que 70% dos que têm atitudes
antissemitas nunca conheceram um judeu. Os seres humanos são estranhos.