sexta-feira, 4 de julho de 2014


04 de julho de 2014 | N° 17849
VERÍSSIMO NA COPA

FATOR CAMPO CONTRA

Outro clichê do futebol é o chamado fator campo, a vantagem de um time jogar em casa, com sua torcida em maioria, diante da família e das namoradas. O fator campo corresponde a todos os nossos prazeres domésticos, da poltrona preferida ao cachorro de estimação, ou da poltrona de estimação ao cachorro preferido. Você está nos seus domínios, nos seus chinelos, e o adversário é um intruso, a ser punido pela audácia de invadir o seu mundo. Numa analogia medieval, você está no seu castelo e o inimigo tenta escalar as suas paredes. Óleo fervendo neles.

Claro que a vantagem de jogar no seu campo existe. Mas não é tão importante assim, e nesta Copa o “fator campo” adquiriu uma conotação irônica. Houve uma reversão de sentido. O fato da Copa ser no Brasil está deixando o nosso time mais nervoso do que normalmente estaria. Mais atrapalha do que ajuda. O hino cantado a capela pelos jogadores e pela torcida é bonito, é inspirador, mas os jogadores estão bradando o hino com uma ênfase meio desafiadora, como se estivessem não em casa mas sozinhos em território inimigo. O último pelotão inglês cantando God Save the Queen antes de ser dizimado pelos zulus.

Não sei como são as sessões motivacionais da psicóloga da seleção com os jogadores. Imagino que ela tente convencê-los de que eles são bons, que ninguém esqueceu como se joga futebol, que ninguém chegaria à Seleção se não fosse um vencedor etc. Mas acho que a preleção deveria se concentrar em lembrar a todos que estão entre amigos. Que estão em casa. Que o castelo é nosso e os zulus somos nós.


É verdade que estar “em casa”, para grande parte dos jogadores em ação nesta Copa, incluindo os brasileiros, significa estar na Europa, num país que não é o deles. A única coisa que os identifica como nacionais, para efeito de Seleção, é a certidão de nascimento. A globalização e a diáspora de jogadores ajudaram a desmoralizar o tal de “fator campo”. Hoje o coração de um jogador pode estar onde ele nasceu, mas o seu campo, os seus interesses – e os seus chinelos – estão em outro lugar.