sábado, 5 de julho de 2014


05 de julho de 2014 | N° 17850
NÍLSON SOUZA

O PAÍS DAS LÁGRIMAS

A verdade é que somos chorões incorrigíveis. Choramos nas vitórias e nas derrotas. Nosso maior campeão – Pelé – chorou mais de mil vezes em público e nunca teve constrangimento em admitir sua emotividade. Uma das imagens célebres da Copa de 58 é a do menino Pelé fungando no ombro de Didi, consolado por Gilmar. Jamais o execramos por isso, pois suas lágrimas sempre foram associadas às conquistas.

Agora há uma crítica implacável sobre os chorões da Seleção. Menos, gente. Só falta ressuscitar aquela mentira machista de que homem não chora. Chora, sim. E chorar não significa fraqueza. Significa apenas deixar transparecer algum tipo de emoção. Às vezes, é até uma demonstração de coragem.

Tenho um episódio familiar para justificar isso. Meu sobrinho debulhava-se em lágrimas para não ficar na escola, nos primeiros dias de aula. A família já não sabia o que fazer. Um dia, com os parentes agrupados no portão do colégio sem saber como proceder, ele olhou para o grupo e falou sem interromper o berreiro:

– Podem ir. Eu choro, mas fico.

E ficou. Essa me parece a atitude mais digna e mais humana. Se não dá para evitar, chore. Mas não deixe de reagir. Não sei se chorar faz bem ou faz mal, os especialistas divergem sobre isso. Só sei que não chorar é antinatural.

E quando alguém chora compulsivamente, com ou sem razão aparente, não adianta pedir que pare, não adianta criticar, não adianta gritar, não adianta argumentar. O pranto costuma ser ilógico, mesmo quando as causas nos parecem claras e insofismáveis. Adianta, isto sim, entender. Abraçar ajuda. Ouvir ajuda. Compreender ajuda. Ser solidário ajuda muito.

O pequeno príncipe, lembram-se dele, começou a soluçar só de pensar que sua amada rosa estava ameaçada pelo carneiro.

E o genial Saint-Exupéry, depois de admitir sua dificuldade para alcançar o coração do menino, conclui:

– É tão misterioso o país das lágrimas.

É mesmo. Mas o tempo – esse senhor às vezes implacável e impiedoso – também sabe ser sensível e delicado para enxugar rostos molhados.


O colunista escreve semanalmente no 2º Caderno