01 de julho de 2015 | N° 18211
MOISÉS MENDES
Pátria sem chuteiras
Pouco antes do início da Copa do ano passado, o jornalista
Mario Sergio Conti divulgou, nos sites do Globo e da Folha de S. Paulo, uma
entrevista com o técnico Felipão. Pagou o mico do ano. O entrevistado era um sósia
que faz shows pelo Brasil imitando o técnico.
Conti é jornalista respeitado. Escreveu Notícias do
Planalto, livro que conta, entre outras coisas, como alguns jornalistas do
final dos anos 1980 inventaram Collor como a criatura que salvaria o Brasil. Era,
claro, uma farsa.
Pois durante a Copa ele foi vítima, em uma viagem de avião,
de um artista que vive das artes da farsa. Sentou-se ao lado do falso Felipão e
comemorou a casualidade com a entrevista.
Foi desmentido logo depois. Felipão estava treinando a Seleção,
e não andando de avião por aí. Conti foi ingênuo? Acho que não. Ele só tratou
com desleixo a Seleção, o técnico e as mentiras do futebol. Conti nos denunciou
como era infantil levar a sério aquilo tudo.
Entrevistar o Felipão verdadeiro ou o falso seria mero
detalhe. O repórter poderia duvidar da facilidade de entrevistar uma outra
celebridade qualquer, enquanto comia a barrinha de cereal na classe econômica. Mas
Felipão, sim, poderia ser entrevistado.
Chegamos ao ponto em que um jornalista que não cobre futebol
acredita mesmo na possibilidade de conversar com Felipão sobre Neymar, a bola e
outras banalidades num voo qualquer. Como quem entrevista Tiririca.
Conti esnobou uma ilusão de todos nós. Acreditem, nos disse
ele involuntariamente, em qualquer bobagem dessa Seleção, inclusive que o técnico
voa de um lado para outro pouco antes de um jogo da Copa, porque isso é desimportante
(se o Felipão falso inventasse de treinar a Seleção, talvez o time não tomasse
sete da Alemanha).
O sósia não desconfiou que a entrevista era séria, o
entrevistador não suspeitou que o sósia não desconfiava de nada, e os editores
do Globo e da Folha acreditaram no sósia e no jornalista e publicaram a
entrevista. Até que alguém alertou que se tratava de um farsante.
E por que lembrar disso agora? Porque Conti nos advertiu, há
um ano, que a Seleção já não significava nada. A Seleção não é mais a pátria de
chuteiras. É um monte de gente de amarelo. Essa Seleção se esforça para imitar
as que a antecederam. Está enganando, mas pode ser desmascarada logo.