02 de julho de 2015 | N° 18212OLHAR GLOBAL |
Luiz Antônio Araujo
Carta de Tsipras é notícia velha
A carta do premier grego, Alexis Tsipras, às autoridades
financeiras da zona do euro e à cúpula do Fundo Monetário Internacional (FMI),
divulgada ontem pelo jornal britânico Financial Times, não é um recuo em relação
à posição anterior de Atenas. Em essência, a carta é um desdobramento da posição
manifestada pelos negociadores gregos na sexta-feira, quando o governo de
Tsipras decidiu submeter a proposta dos credores a um plebiscito.
Os credores exigem a fixação da alíquota do Imposto sobre
Valor Agregado (IVA) em 13% para todo o território da Grécia, incluindo as
ilhas gregas, onde a alíquota é de 9% e um aumento teria forte impacto sobre a
receita advinda do turismo. Na carta, Tsipras propõe que, nas ilhas, seja
mantida a atual alíquota reduzida. Na prática, isso significa a rejeição da
proposta de Bruxelas e Berlim.
Os credores querem a redução de gastos militares para 400
milhões de euros em 2016. Tsipras sugere outros patamares, de 200 milhões de
euros no próximo ano e 400 milhões somente em 2017.
Os credores pregam o fim do abono para aposentados de baixa
renda (cerca da metade dos aposentados gregos têm rendimentos abaixo da linha
oficial de pobreza do país) em 2017. Tsipras aceita, mas quer que a medida só seja
atingida ao final de 2019, e ainda assim mantendo intocados, neste momento, 20%
dos beneficiados, os mais pobres.
Além disso, e principalmente, a correspondência exige a
extensão do acordo de refinanciamento que expirou na terça-feira, e do qual uma
parcela de 1,6 bilhão de euros devida ao FMI continua pendente, e a celebração
de um acordo sob o Mecanismo Europeu de Estabilidade, com vigência de dois anos.
Na realidade, todas as proposições de Tsipras já tinham sido
rejeitadas pelas euroautoridades na noite de terça-feira, ao rechaçar o recurso
ao Mecanismo Europeu de Estabilidade.
A julgar pelas declarações da chanceler alemã, Angela
Merkel, e de autoridades da zona do euro, os credores pretendem prolongar o
impasse até que alguém pisque, ou seja, até que Tsipras não seja capaz de fazer
nenhuma nova exigência. Seja porque terá desistido da posição que permitiu sua
eleição em janeiro, seja porque terá sido afastado da função de primeiro-ministro.
Falta combinar com os gregos.