26
de abril de 2014 | N° 17775
EDITORIAIS
O DESTINO DA
SAFRA
O
Estado comemora a maior safra de grãos de todos os tempos, com mais de 30
milhões de toneladas, mas esta ainda é uma celebração incompleta. A agricultura
que prospera, com investimentos em planejamento, tecnologia e modernização da
gestão, continua a enfrentar obstáculos que aparecem, do lado de fora da
propriedade, no momento do escoamento da produção. Os esforços dos
agricultores, do setor público e de instituições de alguma forma envolvidas com
o apoio ao campo continuam a enfrentar gargalos estruturais crônicos nas
limitações do armazenamento, na precariedade das rodovias e nas deficiências do
sistema portuário.
Estudos
que entidades do Estado refazem periodicamente apontam sempre para os mesmos
desafios. A estrutura logística do Rio Grande do Sul está em desacordo com a
evolução das atividades produtivas. Produzimos mais e melhor, mas sem que os
governos atendam às demandas provocadas pelo crescimento. Conforme avaliação da
Agenda 2020, que faz diagnósticos e aponta saídas para o Estado, os custos de
transporte consomem 18,9% do PIB gaúcho.
Poderia
ser muito menos, com a melhor manutenção das estradas, com duplicações que são
adiadas e com menos burocracia nos sistemas de embarques nos portos. Os gaúchos
desperdiçam, historicamente, recursos que poderiam estar circulando na
economia, junto com a multiplicação de renda proporcionada pelo setor primário.
Calcula-se
que uma safra com a dimensão da atual pode ter, como efeito direto, a geração
de mais de R$ 24 bilhões. A partir daí, o PIB agrícola se dissemina por outras
áreas da indústria, do comércio e dos serviços, inspirando investimentos,
inovação e a abertura de vagas.
Até
o desfecho do ciclo, da lavoura ao consumidor, o Produto Interno Bruto do
conjunto do agronegócio acaba sendo multiplicado por três. Em nenhum outro
Estado brasileiro, a produção agrícola tem o peso que conquistou na economia
gaúcha. São dados que apenas comprovam a total desconexão entre um setor que
cresce muito acima da média de outras áreas, sem a contrapartida da
infraestrutura.
Ganhos
em produtividade, especialmente com o acesso a recursos para irrigação – que
reduzem os danos de eventuais estiagens –, perdem boa parte dos potenciais
resultados, mas não há resignação no consolo de que este é um problema
brasileiro. Os mesmos estudos que apontam os problemas regionais enfatizam, no
confronto com outras unidades da federação, o fato de que o Rio Grande do Sul é
também um dos mais castigados pelo descaso com rodovias e portos.
As
soluções apontadas pela Agenda 2020 passam pela aceitação de que erramos ao
submeter a produção à dependência das rodovias. A saída, demonstrada pelos
países desenvolvidos, está não só na recuperação da malha de estradas, mas no
uso integrado de todas as formas de transporte, que represente redução de
custos, de impacto ambiental e de prejuízos para toda a economia.