29
de abril de 2014 | N° 17778
BRASIL
O PAÍS DAS BALAS
PERDIDAS
Não
passa dia sem que o Rio de Janeiro, vitrine do país, registre um caso de morte
de cidadãos, atingidos pelas chamadas balas perdidas, invariavelmente resultantes
de confrontos entre policiais e traficantes de drogas. No Rio, tais episódios
ganham visibilidade porque as comunidades protestam, manifestantes queimam
ônibus, trancam ruas e acabam virando notícia de primeira página.
Mas
episódios semelhantes, e até piores, ocorrem em todas as cidades do Brasil, um
país tomado pela criminalidade já por muitas décadas, a ponto de termos
incorporado a violência no nosso cotidiano. Na antevéspera de mais um processo
eleitoral, o tema da violência urbana tem que ser colocado entre as
prioridades. Não é possível que o Brasil precise carregar esta chaga social
como uma maldição irremovível.
Um
aspecto particularmente preocupante é que, mesmo pagando cada vez mais
impostos, usamos cada vez mais segurança privada. Vamos nos habituando também a
viver atrás de grades, a ser cautelosos ao sair à rua à noite ou simplesmente a
não sair mais, a ter o máximo de cuidado ao abrir o portão do prédio ou a porta
da casa, a não estacionar fora de garagens. Serviços essenciais, como o comércio,
começam a rever seus horários noturnos ou obrigam o cliente a ser atendido do
lado de fora do estabelecimento.
Está
cada vez mais perigoso sacar dinheiro de caixas eletrônicos, que são explodidas
de forma rotineira, notadamente em comunidades do Interior, sem um número
adequado de policiais para protegê-las, e onde também propriedades rurais estão
mais vulneráveis. Até mesmo no transporte coletivo, usado rotineiramente por
tantos brasileiros, crescem ameaças como as de incêndios criminosos, ordenados
na maioria de dentro das penitenciárias por chefes de gangues que continuam a
ordenar até toque de recolher nas comunidades, mesmo depois de condenados e
encarcerados.
Infelizmente,
a criminalidade se mantém por razões que começam na inação do poder público e
se ampliam com a tendência de muitas pessoas deixarem por isso mesmo quando são
roubadas, assaltadas ou agredidas. Assim como a violência se transformou,
saindo do controle, também os organismos de segurança e os cidadãos precisam
rever suas ações, tornando-as mais efetivas.