23
de abril de 2014 | N° 17772
EDITORIAIS
Zh
O porto da
discórdia
É
pertinente a preocupação das entidades brasileiras de terminais portuários
diante das especulações de que o BNDES estuda a concessão de financiamento para
o porto uruguaio da cidade de Rocha. Administradores de portos brasileiros
temem que uma instituição nacional esteja envolvida na viabilização de um
empreendimento que concorrerá com nossos terminais de escoa-mento e recebimento
de cargas.
O
temor é manifestado a partir de informações sobre a realização de estudos do
BNDES, que não são confirmadas oficialmente pelo banco. Há, de qualquer forma,
indícios suficientes de que, provocado pelo governo uruguaio, o Brasil estuda
formas de apoio técnico e financeiro à obra. A explicação para tal fato estaria
na expectativa de que o projeto pode vir a ser tocado por empresas brasileiras.
Repete-se
a controvérsia do apoio brasileiro, também via BNDES, ao Porto de Mariel, em
Cuba. A atual polêmica suscita várias abordagens. A primeira aciona uma
interrogação previsível: por que o Brasil deve apoiar mais uma obra fora do
país, se faz esforços efetivos para melhoria dos próprios portos? A segunda,
mais complexa, é a que envolve os interesses não só do setor portuário, mas de
todos os que defendem, há muito tempo, redução de custos e de burocracia nas
movimentações de cargas.
Por
isso, não é desprezível o argumento de quem, em nome da competitividade, pode
ver o novo porto uruguaio como solução para problemas crônicos e sem solução em
território nacional, em decorrência da inércia do setor público e também de
gestores dos terminais, muitos dos quais sob controle da iniciativa privada.
A
redução expressiva de custos, também para os brasileiros, seria, conforme o que
já se divulgou sobre o assunto, o principal apelo do porto uruguaio. É óbvio
que, pela racionalidade econômica – e não só pela retórica nacionalista –, a
prioridade deveria ser a correção das deficiências dos portos nacionais. O
governo, controlador do BNDES, deve ser transparente no esclarecimento do
assunto, para que o sistema portuário e os usuários sejam capazes de avaliar o
que poderão ganhar ou perder com tal iniciativa.