19
de abril de 2014 | N° 17768
EDITORIAIS
A EDUCAÇÃO
SIMPLIFICADA
Estados
e municípios em busca de subsídios para qualificar o ensino dispõem das lições
oferecidas pela prefeitura do Rio. A ex-secretária de Educação carioca Cláudia
Costin, que assumirá a diretoria do setor no Banco Mundial, chega ao cargo como
reconhecimento pelo trabalho que liderou no município. Em entrevista ontem ao
programa Atualidade, da Rádio Gaúcha, a secretária contou em detalhes como
conseguiu melhorar significativamente os resultados da maior rede pública
municipal da América Latina, com 1.075 escolas e mais de 43 mil professores, e
resumiu a performance obtida a partir de uma deliberação aparentemente singela:
Em primeiro lugar, é preciso ter coragem.
É o
que de fato ainda falta para o início de mobilizações como a conduzida pela
ex-secretária, cuja formação em Administração e Economia destoa do perfil
clássico dos gestores da área. O principal foco do seu trabalho foi exatamente
a melhoria da gestão. O ensino municipal reavaliou também sua base pedagógica
e, por fim, o setor público passou a atrair, com uma boa remuneração, até mesmo
profissionais que atuavam na rede privada.
Há
lições que podem ser absorvidas de imediato, entre essas a de que o sistema de
progressão continuada, que evita reprovações, pode ser, como define a
ex-secretária, apenas um modelo a serviço de uma visão demagógica. Por conta
desse sistema, cerca de 80% das escolas cariocas não tinham provas. Uma ideia
que não se sustenta apenas nas boas intenções estava penalizando crianças
pobres, sem exames de avaliação, com um ensino classificado na entrevista como
“de segunda classe”. As provas foram retomadas, e as escolas passaram a receber
o suporte de material curricular único.
Outro
aprendizado é oferecido pela ênfase dada à alfabetização, a partir da
constatação de que, em 2009, 13,6% dos alunos do 4º ao 6º ano eram analfabetos
funcionais, ou seja, não dominavam leitura e escrita básicas. Em 2013, esse
índice caiu para 3%. Além disso, 90% das crianças saí-ram do 1º para o 2º ano
alfabetizadas.
A
mesma gestão obteve rendimentos muito acima da média nacional entre estudantes
do 6º ao 9º ano, submetidos aos exames do Programa Internacional de Avaliação
de Estudantes. O município conseguiu o engajamento dos professores com a
definição de objetivos e uma manifestação inquestionável de valorização dos
docentes, com os vencimentos mais altos entre as redes públicas das capitais
brasileiras.
Mesmo
assim, a nova diretora do Bird enfatiza que melhorar o ensino não custa caro.
Trata-se, na verdade, de uma escolha, com a definição de prioridades, que a
maioria dos administradores ainda precisa fazer. Como gestora de educação na
instituição internacional, Cláudia Costin poderá contribuir para avanços na
educação especialmente na América Latina, na África e na Ásia, como parte dos
esforços de combate à pobreza. A ex-secretária é uma das provas de que o Brasil
forma talentos capazes de reverter o quadro geral da educação, mas que somente
serão efetivos se contarem com o respaldo de administradores corajosos.