20
de abril de 2014 | N° 17769
PAULO
SANT’ANA
O crime de Três
Passos
De acordo
com os lentos passos da investigação policial e jornalística sobre o pérfido
assassinato do menino Bernardo Boldrini, vão surgindo fatos que revelam o
profundo desprezo que sua madrasta e seu pai devotavam a ele.
Chegava
ao ponto de a madrasta proibir que o menino entrasse em casa antes que o pai
chegasse, o que acarretava que a criança ficasse esperando na rua durante uma
hora.
Imaginem,
com chuva, não poder entrar em sua casa.
Sabe-se
agora que esse menino sofreu durante anos o desprezo e os maus-tratos de sua
madrasta. Já há depoimentos que atestam que ela tentou asfixiá-lo dois anos
atrás.
Uma
pobre criança sob o poder tirano do pai e da madrasta, com o ápice de ter sido
morto e enterrado em uma cova rasa por seus assassinos.
Quanto
sofreu esse menino antes de morrer. E que fim triste e doloroso lhe deram seus
assassinos.
Era
tão grande a influência da madrasta sobre o marido e o poder do pai sobre a
família – ele é médico e dono de mini-hospital e por isso era pessoa importante
na comunidade –, que algumas testemunhas estavam ou ainda estão com medo de
depor.
A
polícia investiga lentamente se houve mais cúmplices no crime. Não se acredita
que duas mulheres somente tenham, com uma pá e uma cavadeira, enterrado o corpo
do menino.
A
polícia acredita que falta alguém nesse enredo.
Mas
o que não me sai da cabeça é que esse menino sofreu um martírio por anos nas
mãos de seu pai e de sua madrasta.
Ele
por vezes ia visitar um amigo e ficava na casa dele por por dois ou três dias
sem que sua madrasta ou seu pai ligassem para isso.
E
imaginem o terror desse menino quando tinha de voltar para casa.
Chama
a atenção que as autoridades, o juiz, o promotor e o Conselho Tutelar tivessem
tomado conhecimento do desprezo e dos maus-tratos que o menino sofria e não
tivessem tomado providência para afastá-lo daquela prisão existencial. É a tal
coisa, acharam que dava para ir levando a situação, que acabou, no entanto, no
estúpido assassinato de uma criança.
Muitas
pessoas agora devem estar arrependidas de não ter livrado o menino Bernardo dos
grilhões que o amarravam à madrasta e ao pai.
Mas
agora não adianta mais, consumou-se a tragédia.
E
resta a Três Passos e ao Brasil lamentar profundamente.
E o
que colabora mais ainda para isso é a capa da revista Veja desta semana, tomada
inteiramente pelo crime.