30
de abril de 2014 | N° 17779
OLHAR
GLOBAL | Luiz Antônio Araujo
Mais do que selfies com banana, por
favor
As
mais recentes pesquisas de intenção de voto nas eleições para o Parlamento
Europeu, a serem realizadas de 22 a
25 de maio, captam um fenômeno novo e, até certo ponto, histórico. Da Finlândia
à Grécia, organizações de origens e perfis variados, mas que compartilham uma
forte rejeição à imigração e um discurso abertamente racista parecem prontas a
deixar a marginalidade política onde vegetaram nos últimos 25 anos e se tornar
uma força decisiva em Estrasburgo.
O
caso mais surpreendente é o da Grã-Bretanha, onde o Partido Independente (Ukip,
em inglês) ostenta mais de 30% de intenção de voto na faixa mais convicta do
eleitorado. Ontem, um candidato do Ukip foi obrigado a renunciar depois de
sugerir que o comediante Lenny Henry voltasse para “um país de negros”.
Na
França, a Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen, que conquistou importantes
prefeituras em cidades pequenas e médias no último pleito municipal,
conquistaria, segundo as estimativas, 20 dos 74 assentos europeus a que o país
tem direito. Na Dinamarca, um partido anti-imigrantes lidera as pesquisas com
27%. Na Áustria, o Partido da Liberdade, que foi um dia comandado pelo racista
ex-governador da Caríntia Jörg Haider e hoje faz campanha contra a
“islamização”, alcança 20%.
Embora
a discriminação tenha uma longa história na Europa e nunca tenha deixado de ser
popular, a bandeira mais vistosa desses partidos, todos situados à direita do
arco político, é a campanha contra a participação na União Europeia. Enquanto o
megainvestidor húngaro-americano George Soros diz em entrevista à mais recente
edição da revista The New York Review of Books que “o euro veio para ficar”, a
maioria dos cidadãos europeus vê o bloco como incapaz de oferecer mais do que
soluções tecnocráticas para a crise econômica.
Até
o momento, a extrema direita não esboçou uma política verdadeiramente europeia
– a maioria desses partidos mira antes de tudo o poder doméstico. Mas, se acordarem
em 26 de maio como segunda ou terceira força no Parlamento Europeu, terão de
arcar com as novas responsabilidades. Diante disso, será preciso pensar em algo
mais do que selfies com bananas nas redes sociais.