26
de abril de 2014 | N° 17775
NÍLSON
SOUZA
Senso de tempo
Gosto
de ler novidades sobre educação. Outro dia, fiquei impressionado com uma
entrevista do educador inglês Ken Robinson, autor do livro Elemento-Chave e
crítico da escola tradicional. Ele diz que o sistema educacional atual mata a
criatividade, pois está organizado para levar os alunos à universidade como se
isso fosse o ideal supremo de felicidade.
Não
é, garante. Um curso superior nem sempre assegura a profissão sonhada. O
importante, na sua visão, é que as pessoas façam aquilo que gostam de fazer,
divertindo-se e sentindo-se confortáveis. Cada um deve encontrar o seu
“elemento-chave”. Se você ama aquilo que faz, explica, está em seu elemento.
Como
saber se a atividade escolhida é realmente aquilo que lhe dá prazer? –
perguntou-lhe o entrevistador. E é na resposta a esta pergunta que quero me
deter neste comentário. Robinson diz que uma das formas mais práticas de
descobrir isso é analisar o seu senso de tempo: “Se você faz alguma coisa de
que gosta, uma hora pode passar em cinco minutos. Se você faz o que não gosta,
cinco minutos se tornam uma hora e você passa a semana apenas esperando pelo
sábado e pelo domingo”.
Não
poderia ser mais didático. Mesmo nesta era da urgência e da ansiedade em que
vivemos, a percepção do tempo transcorrido continua sendo um sinalizador
eficiente de satisfação ou angústia. Coisa boa é não ver o tempo passar –
embora, paradoxalmente, seja ruim constatar que passou mais depressa do que
gostaríamos.
A
história dos medidores de tempo conta que o homem primitivo notou que sua
sombra era enorme ao amanhecer, ia diminuindo à medida que o sol subia e
crescia novamente ao final da tarde (na pré-história do conhecimento, era o sol
que se movia). Foi assim que nossos bisavós das cavernas se deram conta de que
o tempo passava e de que era possível calcular sua jornada diária pelo planeta.
Da
ampulheta ao relógio atômico foi um passo, até mesmo porque os fabricantes de
relógios certamente amam o que fazem e também eles – por mais irônico que
pareça – não veem o tempo passar quando estão concentrados nas minúsculas
engrenagens e nos números digitais.
Meu
ofício é escrever. Gosto muito do que faço. Quando começo a juntar letrinhas,
muitas vezes me perco na floresta das palavras formadas e nem percebo o
implacável movimento das sombras. Meu elemento-chave é a construção de textos
como este, que só tem sentido quando o leitor chega ao final e conclui que não
perdeu o seu tempo.
De
qualquer maneira, obrigado pelos seus cinco minutos de atenção.