23
de abril de 2014 | N° 17772
EDITORIAIS
ZH
ESTUPIDEZ
CRIMINOSA
Num
país no qual a criminalidade parece cada dia mais indissociável do cotidiano e
que figura com destaque crescente nos rankings internacionais de violência, é
preocupante a banalização de atos como a destruição de ônibus, por meio de
depredações ou incêndios criminosos. No caso mais recente, e um dos mais
assustadores entre os já registrados até agora, mais de três dezenas de ônibus
foram incendiados por criminosos que invadiram a garagem de uma empresa de
transporte coletivo na cidade paulista de Osasco.
O
poder público precisa dar um basta a essas ações covardes, que causam
transtornos à população e aos usuários do transporte coletivo. Além disso,
prejudicam a própria imagem do país, já que as cenas deploráveis ganham espaço
na mídia internacional, às vésperas da realização de um evento importante como
a Copa do Mundo.
Os
números são assustadores: só neste ano, nada menos de 364 ônibus foram atacados
na capital paulista e em municípios da Grande São Paulo, sendo 115 deles
incendiados. Em outras cidades do país, incluindo algumas do Rio Grande do Sul
e de Santa Catarina, também há registros frequentes de veículos coletivos
queimados por traficantes, quadrilhas e até mesmo grevistas e participantes de
manifestações de rua.
No
início do ano, ataques desse tipo já haviam resultado na morte de uma menina de
seis anos no Maranhão. E, seja qual for o caso, o resultado concreto é que o
usuário acaba arcando duplamente com o ônus. Primeiro, porque passa a contar
com menos opções ainda para se locomover, como ocorreu ontem na cidade
paulista. Depois, porque é chamado a responder também pelo custo financeiro.
A
esses episódios, se somam outros igualmente assustadores, como os ataques
coordenados a Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), intensificados nos
últimos meses, no Rio de Janeiro. Mais recentemente, a greve dos policiais
militares em Salvador, na Bahia, chamou a atenção para o quanto a violência
pode transbordar para diferentes áreas quando os criminosos se sentem livres
para agir. A contenção da criminalidade não deveria depender apenas de
policiamento ostensivo, mas sobretudo de observância a princípios morais e
legais. A simples ausência da polícia nas ruas, porém, foi suficiente para
aumentar em 10 vezes o número de mortes diárias na capital baiana, o que é
aterrador.
Nos
casos específicos envolvendo transporte coletivo, os danos provocados, algumas
vezes têm ligação com a insatisfação em relação à má qualidade dos serviços,
que deu origem a protestos em série nas ruas há quase um ano. Atentados a
ônibus, como os de Osasco, porém, estão cada vez mais associados ao crime
organizado, contra o qual a sociedade espera ações efetivas.