06 de julho de 2015 | N° 18216
CÍNTIA MOSCOVICH
ESCRITOR AO SUL
Finalmente uma boa notícia: no sábado, 4 de julho, nasceu um
autor. Guilherme Giugliani estreou oficialmente sua carreira literária com o
lançamento de Antes e Depois do Tempo (Terceiro Selo, 128 páginas). Dele,
ouviremos falar muito, e muito bem.
Tive a felicidade de, por dever do ofício, acompanhar uma
parte da formação de Guilherme como autor. Sei que ele é leitor exigente e que
se recusa ao fácil e ao banal, uma ousadia que requer o empenho de refazer o
texto várias vezes, sempre buscando a melhor expressão.
Sei também que ele
enveredou pelo caminho da tradição, sem invencionices ou malabarismos temático-linguísticos,
dedicando-se ao conto clássico, gênero que demanda grande esforço narrativo – Guilherme
domina a técnica de contar duas histórias ao mesmo tempo, uma que se entrega ao
leitor de imediato e outra que representa a tensão do subentendido e da
entrelinha.
Dentro de uma linhagem na qual brilham os contos sempre
impressionantes de nosso decano Sergio Faraco, bem como os de Monique
Revillion, de Amilcar Bettega e de João Anzanello Carrascoza, uma parte dos
narradores de Guilherme é de crianças. São adultos que, olhando para trás, por
cima do ombro, recordam as histórias do menino que um dia foram, guardando
ainda a surpresa de mundo e aquela espécie de solidariedade e elegância que o
tempo rouba. O primeiro conto do livro, A pescaria, é uma pérola de tão bonito.
Paulista por nascimento e gaúcho por adoção, Guilherme
parece perseguir o próprio crescimento, investindo também em narradores
adolescentes e jovens, todos eles em algum momento crucial da vida, fato que
torna o conjunto de 15 contos uma espécie de, digamos, “livro de formação”. São
histórias de se ler sempre emocionado, porque nosso autor é especialista em
provocar os sentimentos de seus leitores.
Com belo projeto gráfico de Humberto Nunes, edição
supercuidada (a Terceiro Selo pertence à brava editora Dublinense), Antes e
Depois do Tempo deve ser saudado como o início de uma carreira de um rapaz que
já é escritor.