07 de julho de 2015 | N° 18217
CARPINEJAR
Confiar é amar
Amar e confiar são a mesma coisa.
Demorei a perceber. Por isso confiamos em pouquíssimas
pessoas em nossa vida.
E podemos passar uma vida inteira sem confiar em ninguém. É tão difícil confiar quanto amar. Tão raro. A confiança e o amor são conquistados. Exigem tempo, observação,
sinceridade, lealdade, soma de atitudes.
Não é porque é sua mãe ou seu pai ou seu irmão que você vai
confiar. Família não traz garantias. Confiar não é genético. Confiar é intimidade recompensada.
Confiar é recíproco. É quando damos e recebemos simultaneamente. Confiar é
contar um segredo e ver, já no finzinho de nossa história, que nunca foi
revelado.
É uma previdência privada de nossos mistérios. É quando as
ações comprovam as palavras.
Confiar não é para os apressados, mas representa o retorno
de uma longa viagem mental. É a velhice dos nossos hábitos, a velhice das
nossas frases, a velhice de nossos juramentos. É quando um gesto recebeu a
proteção do silêncio.
Quando alguém confia sem conhecer, na verdade, está
esperando confiar. É uma aposta para tornar mais fácil a convivência. Demonstramos despojamento no início das relações, mas somos
complexos no decorrer da cumplicidade. Entregamos a chave da nossa casa para
perguntar todo dia se o outro não a extraviou. E perguntar é desconfiar.
No máximo, confiamos desconfiando. Com o pé atrás e um olho
lá na frente. Confiamos com medo de confiar, sofrendo o receio de ser
enganados, tremendo por depender de alguém, temendo pela nossa vulnerabilidade.
Assim como o amor.
Falamos que amamos antes de amar, para nos convencer de que
é amor. Falamos que confiamos antes de confiar, para nos convencer
de que é amizade.
Confiar é se desiludir, é se frustrar, é se decepcionar.
Assim como o amor. É criar as mais altas expectativas e depois se acomodar com
o que é possível. Como o amor.
É aparecer com todas as certezas do mundo de que aquela é a
pessoa certa e descobrir, aos poucos, que ela mente e pensa torto como você. Confiar dói. Como o amor. Ainda mais quando a confiança é
quebrada e não há como restaurá-la com discussões, colá-la com desculpas,
consertá-la com declarações grandiloquentes.
Confiar é ter uma relação única com alguém, inimitável, e
não dividi-la com um terceiro. É o contrário da falsidade, que significa ser
igual com todos fingindo diferença e exclusividade.
Deixar de confiar é deixar de amar – perde-se junto a
admiração, o alumbramento e o respeito incondicional. Deve-se desamar para amar
de novo.