sexta-feira, 3 de julho de 2015


Jaime Cimenti

As vidas e os mundos de Antônio Carlos Côrtes
DIVULGAÇÃO/JC

Bailarina do sinal fechado apresenta 80 crônicas originalmente publicadas em jornais

Quantas vidas podemos viver? Em quantos mundos podemos estar? Quantos podemos ser? Fico pensando nestas perguntas depois de ler as crônicas de Bailarina do sinal fechado (Palmarinca, 102 páginas, accortes@ig.com.br), do advogado, radialista e homem de cultura Antônio Carlos Côrtes.

Bailarina do sinal fechado apresenta 80 crônicas originalmente publicadas em jornais. A arte da capa é do artista plástico Vinícius Vieira. O texto que inspirou o título da obra foi criado a partir da observação de uma vendedora de jornais que serpenteava o trânsito em meio a carros e motos, com graça de porta-bandeira ou bailarina, como Ana Maria Botafogo.

Côrtes formou-se em Direito pela Ufrgs em 1976, além de radialista destacado há décadas, foi conselheiro e presidente do Conselho Estadual de Cultura e atua fortemente na área cultural e no movimento negro, entre outras atividades.

Na apresentação de Bailarina do sinal fechado, Alcy Cheuiche escreveu: "quanto mais nos aprofundamos num tema, mais simples e inteligível será a nossa narrativa. Maior exemplo disso é O velho e o mar, de Hemingway, que lhe deu o Nobel de Literatura. Penso nisso ao concluir a leitura desse livro, uma coletânea de crônicas que nos emociona, nos diverte e nos obriga a meditar com profundidade sobre os temas abordados".

É verdade. Ao falar de samba, Carnaval, de liberdade e do Jornal do Comércio (pg. 94), de Negra Angela e Alexandre Rodrigues (pg. 58), de cultura agonizante, Copa do Mundo, holocausto, Lupicínio Rodrigues, 40 anos do Grupo Palmares, advocacia preventiva, vuvuzela, Bar dos Petiscos, Ospa, elevação da autoestima, busca do texto perfeito e tantos outros temas, Côrtes mostra, ao mesmo tempo, simplicidade e profundidade, mostra como vive tantas vidas, tantos caminhos e como deixa sua sensibilidade e sua inteligência se envolverem com pessoas, temas e cenários os mais diversos.

Cronista nato, daqueles que não se limitam a produzir textos somente a partir de leituras, computadores e gabinetes, Côrtes nos leva ao Odeon, ao Tuim (com ou sem refrigerantes, como quiser), ao Naval e a outros lugares. Também fala das relações entre cultura, Carnaval, Ospa, religião e outras coisa mais.

Sintetizando, o autor escreveu que sem a vendedora de jornais, a bailarina, nada aconteceria. Que sem seu trabalho de distribuir jornais, suas observações de cronista do macro para o microcosmos, tentando entender o comportamento dos humanos, de nada adiantariam. Acho que o título foi bem escolhido, por alguém que prestigia o saber acadêmico, mas valoriza a cultura popular. Sabe tudo, o Côrtes.