Jaime Cimenti
As vidas e os mundos de Antônio Carlos Côrtes
DIVULGAÇÃO/JC
Quantas vidas podemos viver? Em quantos mundos podemos
estar? Quantos podemos ser? Fico pensando nestas perguntas depois de ler as crônicas
de Bailarina do sinal fechado (Palmarinca, 102 páginas, accortes@ig.com.br), do
advogado, radialista e homem de cultura Antônio Carlos Côrtes.
Bailarina do sinal fechado apresenta 80 crônicas
originalmente publicadas em jornais. A arte da capa é do artista plástico Vinícius
Vieira. O texto que inspirou o título da obra foi criado a partir da observação
de uma vendedora de jornais que serpenteava o trânsito em meio a carros e
motos, com graça de porta-bandeira ou bailarina, como Ana Maria Botafogo.
Côrtes formou-se em Direito pela Ufrgs em 1976, além de
radialista destacado há décadas, foi conselheiro e presidente do Conselho
Estadual de Cultura e atua fortemente na área cultural e no movimento negro,
entre outras atividades.
Na apresentação de Bailarina do sinal fechado, Alcy Cheuiche
escreveu: "quanto mais nos aprofundamos num tema, mais simples e inteligível
será a nossa narrativa. Maior exemplo disso é O velho e o mar, de Hemingway,
que lhe deu o Nobel de Literatura. Penso nisso ao concluir a leitura desse
livro, uma coletânea de crônicas que nos emociona, nos diverte e nos obriga a
meditar com profundidade sobre os temas abordados".
É verdade. Ao falar de samba, Carnaval, de liberdade e do
Jornal do Comércio (pg. 94), de Negra Angela e Alexandre Rodrigues (pg. 58), de
cultura agonizante, Copa do Mundo, holocausto, Lupicínio Rodrigues, 40 anos do
Grupo Palmares, advocacia preventiva, vuvuzela, Bar dos Petiscos, Ospa, elevação
da autoestima, busca do texto perfeito e tantos outros temas, Côrtes mostra, ao
mesmo tempo, simplicidade e profundidade, mostra como vive tantas vidas, tantos
caminhos e como deixa sua sensibilidade e sua inteligência se envolverem com
pessoas, temas e cenários os mais diversos.
Cronista nato, daqueles que não se limitam a produzir textos
somente a partir de leituras, computadores e gabinetes, Côrtes nos leva ao
Odeon, ao Tuim (com ou sem refrigerantes, como quiser), ao Naval e a outros
lugares. Também fala das relações entre cultura, Carnaval, Ospa, religião e
outras coisa mais.
Sintetizando, o autor escreveu que sem a vendedora de
jornais, a bailarina, nada aconteceria. Que sem seu trabalho de distribuir
jornais, suas observações de cronista do macro para o microcosmos, tentando
entender o comportamento dos humanos, de nada adiantariam. Acho que o título
foi bem escolhido, por alguém que prestigia o saber acadêmico, mas valoriza a
cultura popular. Sabe tudo, o Côrtes.