03 de julho de 2015 | N° 18213
DAVID COIMBRA
A entrevista com Sartori
Fiz uma alentada entrevista com o governador Sartori, ontem à
tarde, por Skype.
Por Skype, veja só.
Sou um adepto da ciência e da tecnologia. Pense: a distância
entre Porto Alegre e Boston, em linha reta, atravessando todo o Brasil, parte
do Oceano Atlântico e todos os Estados Unidos, do sul da América do Sul ao
norte da América do Norte, essa distância resulta em exatos 8.311 quilômetros . E
conversei durante quase uma hora com o governador como se estivesse ao lado
dele, na ala residencial do Palácio Piratini.
Viva a ciência. Viva a tecnologia.
Sartori estava bem-humorado, como sempre. Ele é um homem bem-humorado.
Havia três questões, nessa entrevista, que me interessavam
mais do que todas. Em primeiro lugar, queria saber se os aprovados nos
concursos da Brigada Militar e da Polícia Civil seriam nomeados neste ano. Como
venho dizendo, a segurança pública é provavelmente a área que mais inquieta os
gaúchos, hoje em dia. As pessoas estão às franjas do pânico.
Bem. As notícias não são boas. Sartori não vai nomear ninguém em 2015.
“Não posso contratar mais gente, se estou tendo dificuldades para pagar os que
já estão trabalhando”, disse. E pediu compreensão da sociedade para a contingência.
Mas esses mesmos aprovados deverão ser chamados no ano que
vem. Sartori lembrou que um concurso vale por dois anos, podendo ser prorrogado
para outros dois.
O segundo ponto que mais interessava era um tema que ele
abordou durante a campanha e que, me pareceu, passou ao largo, ninguém prestou
muita atenção: Sartori havia insinuado ser contra a eleição para diretores de
escolas. Perguntei a respeito, e ele deixou claro que não é exatamente um
apreciador dessa instituição, pelo menos não como ela se apresenta hoje. Mas não
vai acabar com a eleição para diretores. Vai, apenas, exigir que os diretores
tenham curso de gestão escolar, o que já está sendo feito na prática e deve
virar lei.
Finalmente, o terceiro ponto que me despertava mais
curiosidade era se parte do Estado será ou não vendida.
Será. Não em 2015, mas em 2016 haverá consultas à população
possivelmente já nas eleições municipais. Essas privatizações têm de passar por
plebiscitos, e Sartori terá de promovê-los, ou contornar a exigência com
parcerias e consórcios. Neste ano, ele prefere não tocar nessa área, porque,
como o mercado está recessivo, nenhuma venda deveria alcançar bom preço.
Conheço Sartori há mais de 20 anos. Percebo que ele já tem o
domínio da situação, mas sabe que mudanças profundas só são realizadas com
rupturas profundas, e rupturas profundas produzem profunda dor. Sartori sempre
tenta evitar a dor, mas agora isso é impossível.
Muita gente perderá status e privilégios, muita gente ficará
ressentida. As medidas de que o Estado precisa não tornarão o governador mais
popular. Ao contrário.
Sartori já está se preparando para essa dura etapa do seu
governo. A partir do próximo verão, talvez, ele sabe que terá de causar dor.
Na edição de sábado de ZH, confira a entrevista completa com
o governador. Em vídeo, assista a trechos em zhora.co/entrevistaSartori.