quarta-feira, 18 de junho de 2025


18 de Junho de 2025
MÁRIO CORSO

Mais uma guerra

Vivemos conflitos simultâneos: enquanto a guerra na Ucrânia torna-se crônica, o Oriente Médio afunda em nova escalada de violência. As outras guerras - como as da África (Iêmen, Sudão, Sahel, Congo) - seguem ignoradas pelo Ocidente, possivelmente por um racismo velado, que determina qual sangue merece ser noticiado.

Em paralelo, China trama invadir Taiwan, Índia e Paquistão trocam provocações bélicas, Armênia e Azerbaijão disputam territórios. Enfim, não parece um bom momento para a humanidade. Mas quando é que foi melhor?

Há uma contradição dolorosa no modo como nos encaramos. Criamos narrativas de um possível mundo pacificado, como se fôssemos anjos em vez de animais políticos. Basta uma crise geopolítica, um recurso escasso, uma fronteira contestada, para que a máscara da ilusão civilizatória caia.

A história, implacável, nos lembra que a violência organizada é uma constante. Preferimos nos ver como espectadores, não como agente. Acreditamos que a violência é algo que "os outros" praticam. Essa autoimagem tranquilizadora ignora que democracias financiaram ditaduras, venderam armas, traçaram fronteiras arbitrárias e apoiam golpes contra outras democracias.

A recusa em aceitar a guerra como parte da condição humana vem de um desejo profundo de transcendência. Queremos acreditar que somos melhores que nossos ancestrais, que a era das carnificinas acabou. O século 20 - com suas guerras mundiais, genocídios e bombas atômicas - já deveria ter nos curado dessa ilusão.

A sabedoria possível é encarar nossa natureza contraditória: somos capazes de compaixão e crueldade, de construir e destruir. A guerra não é um "erro" da humanidade, é um dos seus possíveis caminhos. Reconhecer isso não significa justificá-la, mas sim abandonar a infantilidade de quem acha que o paraíso terrestre é uma meta alcançável.

Desculpem o mau humor, mas é um desabafo de um psicanalista que assiste a ridicularização da psicanálise quando ela fala de pulsão de morte, pulsão destrutiva e autodestrutividade. Nos punem por insistirmos em nos olhar no espelho e encarar o que somos: não um ser angelical, mas um animal complicado, tentando sobreviver à própria capacidade de destruição. 

MÁRIO CORSO

18 de Junho de 2025
OPINIÃO DA RBS

Chance para um salto no turismo

Saltava aos olhos, no último verão, o crescimento da quantidade de argentinos nas rodovias e praias do Estado. Dados divulgados nesta semana pela Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) mostram em números o tamanho da invasão dos visitantes do país vizinho. São dados que também indicam uma grande oportunidade para os negócios ligados a viagens a lazer no Rio Grande do Sul.

Entre janeiro e maio, 1,17 milhão de turistas estrangeiros ingressaram no Brasil pelo território gaúcho, quantidade 94,5% superior a igual período de 2024. O Estado ficou atrás apenas de São Paulo. Destes, 968,5 mil eram argentinos, contingente de mais do que o dobro do registrado de janeiro a maio do ano passado.

A razão também é conhecida. A valorização do peso tornou as viagens ao Exterior mais acessíveis para os argentinos. O Brasil, ao lado, com um imenso litoral, é o destino mais óbvio. A esmagadora maioria chega ao Rio Grande do Sul por rodovias, mostram os dados da autarquia federal responsável pela promoção do turismo brasileiro no Exterior. Mesmo que não existam números precisos, sabe-se que uma parte fica no Estado e outra, significativa, ruma em especial para o litoral de Santa Catarina.

Tamanho fluxo cria a chance para o Rio Grande do Sul ampliar as atividades no setor de turismo e demais serviços ligados ao segmento. Ainda que uma parcela grande não tenha o Estado como parada final, os viajantes cruzam grandes extensões do território gaúcho. Precisam se hospedar, se alimentar e abastecer seus veículos. Essa passagem, da mesma forma, abre a oportunidade para outras regiões de grande potencial de turismo no Estado. 

Ainda que o objetivo seja chegar às praias, é bastante razoável ambicionar que, mesmo por algumas horas ou poucos dias, usufruam de outros destinos ao longo do trajeto, como nas regiões dos vales, Missões, Campos de Cima da Serra e a própria Capital, entre muitos outros com diferentes atrativos culturais, gastronômicos, humanos e de paisagens naturais. Mesmo que boa parte ingresse por Uruguaiana e tenha como caminho preferencial a BR-290, os argentinos entram por diversos outros pontos. Há mais rotas, portanto, que podem extrair ganhos desse movimento.

Por diversas razões econômicas, como o comércio de bens, é benéfico para o Brasil - e principalmente para o RS - que a Argentina suplante de vez a crise crônica atravessada nas últimas décadas. Mantida a recuperação do país vizinho, tende a ser contínuo o fluxo de visitantes - e ainda com melhor poder aquisitivo do que na época das vacas magras. Não é nada desprezível ter cerca de 1 milhão de argentinos circulando a cada ano no Estado. É chance de consolidar outros destinos.

Para uma melhor experiência e uma boa impressão da Capital, por exemplo, seria desejável que a entrada da cidade fosse mais aprazível ao olhar dos visitantes e a limpeza urbana melhorasse bastante. Quanto às vias de circulação, ganha importância a duplicação da BR-290, idealmente até Uruguaiana. É preciso saber aproveitar esse cenário e trabalhar a divulgação de outras regiões para tirar o máximo proveito dessa significativa corrente de visitantes que atravessa o Rio Grande do Sul. 


18 de Junho de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Trump ameaça Irã e mercado perde a bússola

É sob horizonte fechado que o Comitê de Política Monetária (Copom) encerra hoje a reunião para definir o juro básico do país. No famoso "balanço de riscos" que mapeia as decisões do Banco Central (BC), há nada menos do que uma guerra na qual a maior potência militar do planeta já está engajada, ao menos verbalmente.

Na véspera, analistas de guerra e de negócios apostavam em cessar-fogo, o que desarmou cotações do petróleo e do dólar. Mas ontem o petróleo voltou disparar 4,2%, para US$ 76,29. O dólar variou 0,2% para cima, insuficiente para voltar ao nível de R$ 5,50. Ficou em R$ 5,498.

A aposta dominante é de que o Copom faça uma parada para avaliação, mas não haverá grande surpresa se anunciar nova alta de 0,25 ponto percentual, tamanha a incerteza do cenário. E mesmo se decidir pelo "viés de parada", não significará, necessariamente, que o ciclo de alta terá terminado. Ninguém, em sã consciência, é capaz de ver o que ocorrerá amanhã, quanto mais no "horizonte relevante" que o Copom mira com suas decisões.

Presidente dos EUA usa "nós" para pressionar

O que tornou tudo mais difícil são declarações do presidente dos Estados Unidos explicitando que seu país é um ator no conflito entre Israel e Irã. Não que houvesse dúvida sobre quem os EUA apoiavam, mas havia tentativa de evitar que a maior potência militar do planeta tivesse envolvimento direto em uma nova guerra.

Donald Trump fez ultimatos ao governo iraniano, inclusive exigindo "rendição incondicional" e normalizou o assassinato político ao afirmar:

- Sabemos exatamente onde o chamado "Líder Supremo" está escondido. Ele é um alvo fácil, mas está seguro lá. Não vamos tirá-lo de lá (matar!), pelo menos não por enquanto.

"Vamos" significa que participa da decisão. As forças armadas americanas enviaram mais caças e porta-aviões para o Oriente Médio. O quanto Trump deve ser levado a sério é um absoluto mistério. Na mesma publicação, usa o verbo "matar" (kill) com direito a ponto de exclamação e encerra com "obrigado por sua atenção a esse assunto". Não há bússola que oriente. _

A derrota sofrida pelo governo Lula com a aprovação de votação sob regime de urgência de decreto legislativo para derrubar o aumento de IOF não fez preço porque há previsão de duas semanas de "graça". Afinal, vem aí São João...

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Só três blocos no litoral do Estado interessam

Dos 34 blocos disponíveis na Bacia de Pelotas, só três foram arrematados no leilão do 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão, realizado ontem pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), todos no litoral gaúcho.

O único consórcio com interesse na região foi formado por Petrobras (70%) e Petrogal Brasil (30%), que pagou R$ 11,46 milhões em bônus, com investimento mínimo previsto de R$ 84,96 milhões. A empresa de Portugal ainda não tinha participação nas pesquisas na costa gaúcha.

O resultado representa redução de interesse em relação a dezembro de 2023, quando foram arrematados 44 blocos na Bacia de Pelotas.

Como se previa, desta vez a estrela do leilão foi a Foz do Amazonas, que teve 19 blocos arrematados entre 47 oferecidos. Essas áreas estão na polêmica Margem Equatorial, onde a exploração é criticada por ambientalistas, por risco de acidentes perto da região amazônica.

Na Foz do Amazonas, foram arrecadados R$ 844,3 milhões em bônus, com investimento mínimo previsto de R$ 1 bilhão. A americana Chevron vai operar nove blocos na região, todos em consórcio com a CNPC Brasil, de origem chinesa. A Petrobras terá cinco áreas em parceria com a ExxonMobil Brasil, com origem nos EUA. As demais terão a ExxonMobil Brasil como operadora principal, com a Petrobras em menor participação. _

02

RS marca passo enquanto PR cresce 5,9% e SC avança 5,6%

A análise das economias regionais iniciada neste ano pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) aponta a força de um cultivo ancestral. Diante da estiagem do verão passado, foi a uva que "salvou a lavoura" no primeiro trimestre no RS.

Segundo Juliana Trece, economista do Núcleo de Contas Nacionais do FGV Ibre, a economia gaúcha marcou passo no primeiro trimestre deste ano na comparação com igual período de 2024 - nas suas contas, a variação foi zero. O que evitou resultado negativo foi a agropecuária, que subiu 2,7%, enquanto a indústria avançou 0,9% e serviços recuaram 1,1%.

Outra vez, no entanto, Santa Catarina (5,6%) e Paraná (5,9%) tiveram crescimentos expressivos no primeiro trimestre. Conforme o levantamento, a soja respondeu por quase metade do crescimento do valor adicionado da agropecuária paranaense (17,6%). Em SC, foi o fumo que inflou a alta de 12,3%. O estudo da FGV Ibre havia antecipado, no início deste ano, o "pibão" oficial gaúcho em ano de enchente.

Conforme o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do IBGE, um dos indicadores verificados para avaliar a economia gaúcha, o aumento na produção de uva neste ano deve alcançar 39,6%. O dado representa uma expectativa, mas como a safra deste ano já foi colhida, é uma perspectiva confirmada.

É preciso lembrar, porém, que o efeito líquido (literalmente) dos vinhedos é menor do que o da soja no PIB gaúcho. Arroz e fumo também ajudaram a manter positivo o resultado da produção agrícola do Estado.

- O RS teve o resultado mais magro dos três Estados do Sul. O Paraná foi mais beneficiado pela produção de soja, e SC se destacou pelo fumo. No RS, a principal lavoura, que é a de soja, teve contribuição negativa - afirma Trece. _

Não queremos mísseis disparados contra civis ou soldados americanos. Nossa paciência está se esgotando.

Donald Trump - Presidente dos Estados Unidos

R$ 1 bi

foi a cifra quase atingida pelo leilão de petróleo da ANP. Em momento difícil para encontrar financiamento para o rombo do orçamento deste ano, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, apressou-se a dizer que vai "ajudar". Embora esse valor de fato não estava previsto na arrecadação deste ano, é insuficiente. Para substituir o aumento de IOF e/ou a medida provisória "alternativa", faltam apenas R$ 19 bilhões.

GPS DA ECONOMIA

18 de Junho de 2025
POLÍTICA E PODER - Paulo Egídio

MP do RS amplia benefícios

O Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul ampliou recentemente benefícios a promotores e procuradores ligados à instituição. As seis decisões administrativas foram comunicadas na semana passada aos membros em ofício do chefe do MP, Alexandre Saltz. Ainda não há estimativa de qual será o impacto financeiro das medidas, que dependerá de cálculos mensais.

O procurador-geral de Justiça afirma que as iniciativas foram adotadas com base em decisões proferidas pelos conselhos nacionais da Justiça (CNJ) e do Ministério Público (CNMP) e levam em conta o caráter nacional da carreira. Além disso, visam conter a saída de membros da instituição em razão da condição remuneratória mais vantajosa em outros Estados.

- Queremos garantir que o Ministério Público do RS fique em condições de igualdade com outros MPs no que diz respeito ao interesse de pessoas em prestarem concurso no nosso Estado e, mais do que isso, de permanecerem no RS quando aprovados no concurso - salienta Saltz.

Entre as decisões tomadas pelo procurador está a autorização para que promotores e procuradores continuem usufruindo da licença-prêmio, afastamento de três meses a cada cinco anos trabalhados. O benefício foi extinto para o funcionalismo público estadual em 2019, por emenda à Constituição, mas o MP entende que a regra não se aplica a seus membros. Se não exercido, o afastamento pode ser convertido em dinheiro.

Também foi concedido pagamento retroativo desde 2015 da licença compensatória por acúmulo de acervo, que configura um afastamento de um dia a cada três trabalhados para membros com excesso de processos. Ao final do mês, o membro pode escolher se usufruirá do afastamento ou receberá em dinheiro, desde que haja disponibilidade orçamentária.

Ainda está no pacote o aumento do auxílio-saúde dos membros e dos servidores. Hoje, o benefício restitui até 10% do subsídio, índice que passará para 15%. O auxílio reembolsa gastos com planos de saúde e despesas médicas. _

O que foi anunciado - Veja os detalhes das medidas

1 Continuidade da licença-prêmio

Permite que membros do MP continuem a receber a licença-prêmio, que foi substituída por licença-capacitação para todo o funcionalismo estadual em 2019. Benefício concede afastamento de três meses a cada cinco anos trabalhados e pode ser convertido em remuneração. Os prazos da licença-prêmio foram paralisados nacionalmente em 2020, por cinco anos, e retomados em 2025.

O que diz o MP: considera que membros não estão sujeitos à aplicação da emenda constitucional estadual, visto que a licença-prêmio está prevista na Lei Orgânica da carreira, que tem caráter nacional.

2 Acréscimo na base de cálculo

Decisão amplia a base de cálculo para a conversão da licença-prêmio em dinheiro. Além do valor dos subsídios, são considerados outros adicionais, como o valor restituído do auxílio saúde e 1/12 do 13º salário.

O que diz o MP: segue entendimento do CNMP e de decisões judiciais que têm garantido a inclusão desses adicionais no cálculo.

3 Licença compensatória retroativa

Permite pagamento retroativo do benefício, instituído em março deste ano para substituir o adicional por acúmulo de acervo. Vantagem consiste em afastamento de um dia a cada três trabalhados para promotores e procuradores com excesso de processos, e pode ser convertido em indenização.

O que diz o MP: segue decisão do CNJ, que instituiu o pagamento retroativo para magistrados desde 2015, a partir do que consta na Lei Orgânica da Magistratura.

4 Licença compensatória em afastamentos

Permitirá pagamento do adicional para parte dos promotores e procuradores afastados das funções. Os critérios serão definidos em regulamento futuro, mas os afastamentos devem abranger, por exemplo, a licença para tratar problemas de saúde. O pagamento em período de férias ainda será discutido.

O que diz o MP: concessão ainda será regulamentada e casos devem ser analisados por comissão interna responsável por avaliar casos de acúmulo de acervo.

5 Pagamento de subsídio retroativo

Membros do MP receberão verba retroativa referente aos meses de janeiro a abril de 2005, com incidência de juros. Esse benefício tem origem na mudança do regime de pagamento da instituição, que passou de salário para subsídio. Nacionalmente, isso ocorreu em 2005, mas, no Rio Grande do Sul, foi adotado em 2009. O pagamento retroativo a partir de maio de 2005 já havia sido reconhecido, e a nova decisão abrange os meses iniciais daquele ano.

O que diz o MP: segue parâmetro definido pelo Conselho Nacional de Justiça para o pagamento já efetuado a magistrados.

6 Aumento no auxílio-saúde

Benefício que permite reembolso com planos de saúde e despesas médicas irá de até 10% para até 15% dos subsídios. Também serão acrescidas outras previsões de reembolso, como participações em procedimentos e para medicamentos com prescrição médica.

O que diz o MP: benefício também abrange servidores da instituição e é concedido apenas mediante comprovação de gastos com saúde.

CPI em dúvida

Tramitando há um ano e meio, o requerimento para instalação de uma CPI contra a RGE e a CEEE Equatorial na Assembleia recebeu a 19ª assinatura ontem, proveniente do deputado Delegado Zucco (Republicanos). O número seria suficiente para a abertura da comissão, mas há controvérsia sobre a validade da assinatura de Pepe Vargas (PT).

Pepe subscreveu o requerimento em 2024, antes de assumir a presidência da Casa. E um artigo do regimento interno diz que o presidente só pode assinar propostas da Mesa Diretora.

Signatários da CPI entendem que a assinatura da época seria válida, enquanto governistas argumentam que a validade deve ser verificada na data em que a CPI é protocolada.

Na sessão de ontem, a bancada do PT discutia sobre a validação da assinatura de Pepe (foto).

Em nota, a CEEE informou que "respeita as instituições democráticas e está à disposição dos parlamentares". _

Troca de bancos

Diretor do Badesul há 10 anos, o ex-deputado estadual Kalil Sehbe Neto (PDT) foi indicado pelo governo do Estado para integrar a diretoria do Banrisul. Assembleia e Banco Central precisam 

Ouvidos atentos

O governador Eduardo Leite indicou o ex-deputado Luiz Henrique Viana (PSDB) para o cargo de ouvidor da Agergs. Viana deixou em abril o comando da secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo. 

Preparando a festa

O Palácio Piratini anuncia hoje os primeiros investimentos para a celebração dos 400 anos das Missões Jesuíticas. Serão R$ 36 milhões em 12 municípios e outros R$ 10 milhões na reforma do aeroporto de Santo Ângelo. _

aliás

Delegado Zucco assinou o pedido de CPI das concessionárias de energia após seu projeto que concede benefícios a policiais civis ser barrado na Comissão de Constituição e Justiça pela base do governo.

mirante

Sebastião Melo quer afastar do centro administrativo municipal qualquer discussão sobre as eleições de 2026. O prefeito deve mesmo embarcar na candidatura do correligionário Gabriel Souza, mas quer evitar cismas com o PL de Luciano Zucco, seu principal aliado no governo.

Um grupo de prefeitos do PP se organiza para lançar manifesto de apoio à candidatura do secretário do Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo, ao governo do Estado. O movimento quer o partido encabeçando a chapa, e não indicando vice.

POLÍTICA E PODER


18 de Junho de 2025
INFORME ESPECIAL- Rodrigo Lopes
com Vitor Netto

O risco de uma 3ª Guerra Mundial

Sejamos claros: o mundo vive um dos momentos geopolíticos mais críticos desde o fim da Guerra Fria, com dois conflitos interestatais ao mesmo tempo - Rússia x Ucrânia e Israel x Irã - localizados em regiões-chave que servem de interconexão - e por isso, em grande parte o tensionamento - entre o Ocidente e Oriente.

No caso do Oriente Médio, usinas de enriquecimento de urânio do Irã, que podem gestar a bomba atômica, estão sendo bombardeadas, há troca de fogo entre Teerã e Tel Aviv e mortos e feridos dos dois lados. A escalada da crise ocorre em um momento em que parece haver dois blocos sólidos de apoio, um a Israel (EUA) e outro ao Irã (Rússia e China).

Mas, calma, a Terceira Guerra Mundial só será possível se todas as potências decidirem entrar no campo de batalha - uma situação altamente improvável neste momento. Aliás, é muito mais provável um conflito global a partir de Rússia e Ucrânia do que entre Israel e Irã, apesar da retórica inflamada e de ódios ancestrais no segundo caso.

No confronto entre Israel e Irã, não há interesse das potências em se envolver - logo, os blocos em jogo não são monolíticos. O Irã, com sua capacidade militar esfarrapada, nunca esteve tão só; a Rússia está cansada da sua própria guerra, e a China, mais preocupada em fazer negócios. Os braços terroristas dos aiatolás também estão aos frangalhos, e a antiga aliada Síria, desde a queda de Bashar al-Assad, afastou-se do tabuleiro.

Para que houvesse uma Terceira Guerra Mundial seria necessário, antes de tudo, o jogo de alianças terrível que favoreceu, no passado, a formação do Eixo, da Tríplice Entente ou da Tríplice Aliança. Não há esse cenário hoje. O que não significa que não tenhamos uma escalada da crise para uma guerra regional, com reverberação no Golfo Pérsico e na economia global. _

Trump coloca mais gasolina no conflito

As declarações do presidente americano Donald Trump jogam mais gasolina no conflito entre Irã e Israel, que se arrasta há cinco dias, com aproximadamente 250 mortes.

Primeiro, na segunda-feira, o republicano pediu que os moradores de Teerã deixassem a cidade imediatamente, endossando os alertas do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. O problema é que isso não é tão simples: a capital do Irã tem mais de 10 milhões de habitantes.

Ainda na segunda-feira, Trump postou em sua rede social, a Truth Social: "O Irã deveria ter assinado o ?acordo? que eu propus."

Ontem, ele afirmou que não está buscando um cessar-fogo entre Irã e Israel, mas sim o "fim da guerra", sob a forma de um ultimato.

Não está claro o que o presidente quer dizer com um "fim definitivo" do conflito. _

Pimenta vai a ato de Cristina Kirchner

O deputado federal gaúcho e ex-ministro da Reconstrução do RS, Paulo Pimenta, representará o PT em ato de solidariedade à ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner. O parlamentar viaja hoje a Buenos Aires para o evento.

Conforme nota no Instagram do PT, Cristina enfrenta "desde 2015 perseguição política baseada em lawfare - uso do Judiciário para fins políticos -, além de campanha de ódio, mentiras e violência promovida pela extrema direita e pela grande mídia".

Cristina foi condenada pela Suprema Corte da Argentina a seis anos de prisão e inabilitação para exercer cargos públicos, acusada de envolvimento em esquema de corrupção entre 2007 e 2015. _

A superbomba que pode destruir usina do Irã

Desde o início dos bombardeios entre Israel e Irã, surgiu a possibilidade de os EUA se envolverem militarmente no conflito. A hipótese ganhou força quando autoridades israelenses afirmaram que só os americanos dispõem de um tipo específico de bomba capaz de destruir a instalação nuclear subterrânea de Fordow.

Ontem, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, declarou que "somente as bombas antibunker dos EUA teriam capacidade para atingir Fordow com eficácia".

Fordow é uma instalação nuclear iraniana que abriga centrífugas avançadas para enriquecimento de urânio em altos níveis e está enterrada nas montanhas próximas a Qom, a 160 quilômetros ao sul de Teerã. Revelada em 2009, é protegida e estima-se que esteja entre 80 e 90 metros de profundidade.

A arma mencionada pelos israelenses é a GBU-57, conhecida como Massive Ordnance Penetrator (MOP). A bomba antibunker pesa impressionantes 13,6 toneladas e foi desenvolvida para atingir alvos subterrâneos profundos. Sua característica mais notável é a capacidade de penetrar até 60 metros do solo antes de detonar. O uso é limitado pelo fato de que só pode ser transportada pelos bombardeiros Stealth B-2 Spirit, tecnologia que Israel não possui. _

Golpes na seleção para o serviço militar

Atenção! Golpistas estão tentando ludibriar interessados em processos seletivos para o Exército. Os larápios estão criando anúncios em redes sociais que direcionam para sites nos quais são cobrados valores de inscrição. Há inclusive chamados para processos seletivos que sequer existem, como para a 2ª Brigada de Cavalaria Mecanizada.

O Exército alerta que as inscrições para todas as seleções do serviço militar, seja para militares temporários ou para cursos de formação, são realizadas exclusivamente pelo site oficial do Exército Brasileiro (www.eb.mil.br) ou da 3ª Região Militar (www.3rm.eb.mil.br). _

Ulbra recebe reconhecimento nacional

A Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) foi agraciada com a Medalha do Mérito Evangélico Daniel Berg e Gunnar Vingren em reconhecimento aos trabalhos realizados durante a enchente de maio de 2024. A honraria foi entregue ontem.

Concedida pela Câmara dos Deputados, a medalha homenageia pessoas ou instituições que se destacaram por serviços prestados à comunidade e pela promoção de valores cristãos.

Durante a catástrofe, a Ulbra abrigou mais de 8 mil pessoas em suas dependências, oferecendo assistência humanitária. 

INFORME ESPECIAL

terça-feira, 17 de junho de 2025


17 de Junho de 2025
CARPINEJAR

Joia da invisibilidade

O Jardim Botânico é a nossa joia da invisibilidade. Deveria ser o nosso paraíso de descanso, mas é o nosso oásis de descaso. Vivo destacando que se tornou o endereço mais subestimado de Porto Alegre, mesmo sendo um dos cinco maiores jardins botânicos do país.

ZH divulgou novos dados da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), que escancaram o óbvio: o parque perdeu 65% dos visitantes em sete anos. Em 2017, houve o registro de 64 mil pessoas; no ano passado, o número ficou reduzido a 22 mil curiosos.

Não dá para pôr a culpa na localização, já que se encontra na Terceira Perimetral, uma das vias mais movimentadas da cidade. Não dá para debitar a conta na ausência de atrações: são 650 espécies de plantas, cem espécies de aves, serpentário, Museu de Ciências Naturais.

Não dá para atribuir o problema ao valor do ingresso, absolutamente simbólico: R$ 6 (adultos) e R$ 3 (estudantes e idosos a partir de 60 anos), com entrada franca para crianças de até cinco anos. Paga-se mais para guardadores de carro.

Ainda que sua privatização não tenha sido consumada em 2022, por falta de interessados, nosso viveiro coletivo não recuperou sua alma. Nem sua credibilidade. Sem demanda, não há investimentos. E continuará ocorrendo o cruel e gradual esvaziamento do quadro de funcionários, que só se agravou desde a extinção da Fundação Zoobotânica, no governo Sartori.

O Jardim Botânico tem 36 hectares de quietude florescida, com trilhas deslumbrantes e sedutoras na mata. Assemelha-se em área verde à Redenção (37,51 hectares) e nem de longe alcança sua popularidade. Jamais entrou em alguma música de nossos bardos, nunca serviu de tema aos nossos poetas, sequer é mencionado em enquetes sobre os pontos turísticos mais importantes.

Enquanto escrevia este texto, meu melhor amigo, José Klein, telefonou-me maravilhado com o Parque da Tijuca, no Rio de Janeiro. Não me lembro de qualquer telefonema de algum conhecido dentro do nosso Jardim Botânico, tampouco de um comentário a respeito de passeios em família no fim de semana.

Circulamos com frequência pelo Parcão, pelo Gasômetro, pela orla do Guaíba, pelo Parque Marinha do Brasil, mas nunca colocamos os pés no Jardim Botânico. Que quebranto é esse? Como um parque avaliado em R$ 247 milhões experimenta tamanho ostracismo?

Por que ignoramos o nosso laboratório de vida a céu aberto, com atividade de pesquisa há 51 anos? Quando o comparamos aos jardins botânicos de outras capitais, o mistério aumenta. O de Curitiba recebe anualmente 1,8 milhão de pessoas; o do Rio de Janeiro, 600 mil; o de São Paulo, 100 mil.

A população de Curitiba é apenas 30% maior do que a de Porto Alegre, só que a visitação do Botânico na cidade paranaense é 82 vezes superior.

Nosso jardim de seis décadas é um lugar mágico para a expedição escoteira dos pequenos, para matear com a família, para piqueniques à beira dos lagos, para namorar deitado na grama, cercado de flores exóticas, para adquirir mudas especiais e presentear os afetos, além de ser um programa imperdível para quem ama orquídeas ou cactos.

Talvez seja o momento de retomar a realização de concertos, numa fórmula que já funcionou antes, capaz de atrair o público pela música.

O último concerto no espaço aconteceu em outubro de 2017, com apresentação da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa). Infelizmente, o Concerto de Primavera foi interrompido por um intenso temporal após a execução da terceira música - ventos de aproximadamente 107 km/h provocaram danos estruturais e afugentaram os espectadores. Transcorreram oito anos sem a tradicional programação cultural.

Será que não cabe incentivar também excursões escolares, com aulas práticas que ilustrem os trabalhos de biologia e ecologia? Em vez de vender o patrimônio à iniciativa privada, nosso desafio é vendê-lo de volta ao coração dos porto-alegrenses. 

CARPINEJAR

17 de Junho de 2025
OPINIÃO RBS

No ensino, metas descumpridas

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou na sexta-feira que a taxa de analfabetismo segue em queda no país. No ano passado, o percentual de brasileiros que não conseguem ler e escrever um bilhete simples ficou em 5,3%, ante 5,4% em 2023. É o menor patamar desde o início da pesquisa, em 2016, quando a taxa era de 6,7%. O avanço na alfabetização, porém, não esconde o desempenho insatisfatório do ensino.

O ritmo de aquisição de uma das habilidades mais básicas da cidadania, afinal, não foi capaz de levar ao atingimento da meta 9 do Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024, de erradicar o analfabetismo no país no ano passado. O percentual de 5,3%, em números absolutos, significa 9,1 milhões de pessoas com 15 anos ou mais. O Rio Grande do Sul, por sua vez, teve em 2024 a quinta menor taxa do país, com 2,4% de analfabetismo contra 3% em 2016.

Não ser minimamente letrado traz impactos negativos a uma série de circunstâncias e tarefas simples do cotidiano, como embarcar em um ônibus urbano. Gera dependência de terceiros e limita a possibilidade de acesso a ocupações e postos de trabalho com renda digna.

É verdade que o analfabetismo se concentra na população mais idosa. Na faixa etária de 60 anos ou mais, a taxa chega a 14,9%. É uma distância de quase 10 pontos percentuais para os mais jovens. Demonstra a relevância de políticas para dar instrução aos brasileiros mais maduros. As gerações mais recentes, por outro lado, têm maior acesso a escolas do que seus avós.

A possibilidade de estar na sala de aula, entretanto, ainda está distante de ser garantia de um ensino de boa qualidade. Uma prova dessa deficiência aparece nos dados do analfabetismo funcional. Estão nessa condição aquelas pessoas que identificam palavras isoladas ou frases curtas, mas são incapazes de compreender sentenças um pouco mais longas e complexas e, da mesma forma, têm dificuldades com os números.

O país não consegue avançar nesse quesito. Um estudo divulgado em maio apontou que 29% dos brasileiros de 15 a 64 anos foram classificados como analfabetos funcionais no ano passado. Choca que três em cada 10 brasileiros se mantenham nessa condição. A tragédia é que é o mesmo percentual da edição anterior do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), de 2018. O estudo é conduzido pela Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social. Tem ainda a participação da Fundação Itaú, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, Instituto Unibanco, Unesco e Unicef. A mesma meta 9 do PNE indicava o objetivo de reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional no país.

Os dados do IBGE divulgados na sexta-feira confirmam os problemas crônicos da desigualdade no país. O analfabetismo é maior no Norte e no Nordeste e entre pretos e pardos. Um dos poucos avanços razoáveis é no Ensino Superior. A parcela de brasileiros com graduação sobe ano a ano. Passou de 15,4% em 2016 para 20,5% no ano passado, mas também persistem as dúvidas sobre a qualidade da formação recebida.

Os dados, em resumo, mostram que o país ainda está longe do salto educacional necessário para alcançar o desenvolvimento socioeconômico almejado pelos brasileiros. 


17 de Junho de 2025
GPS DA ECONOMIA  Marta Sfredo

Esta coluna contém informação e opinião

Em meio a conflito, dólar abaixo de R$ 5,50. Apesar do risco representado pelo confronto entre Israel e Irã para a economia brasileira - mais focado em inflação e juro -, o mercado financeiro no Brasil se comportou, ontem, como se não existisse. E o principal motivo é o resultado do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em abril. Isso que não é uma sinalização tão clara: se por um lado veio bem abaixo do mês anterior, por outro ficou acima da expectativa para o mês. 

Por isso o dólar caiu 1%, para R$ 5,486, e a bolsa subiu 1,5%. Como nada está definido no cenário que se aproxima de uma guerra no Oriente Médio - nem a posição da maior potência militar do planeta -, o mercado escolheu "adivinhar" que haverá um cessar-fogo e que a desaceleração do IBC-BR pode evitar nova alta no juro na decisão de amanhã do Comitê de Política Monetária (Copom).

Sócio e economista chefe da G5 Partners, Luis Otávio Leal avalia que, de um lado, há uma política monetária já muito contracionista (elevada com objetivo de reduzir o ritmo da atividade) e várias incertezas no cenário internacional e, de outro, o mercado de trabalho apertado e o governo empenhado em sustentar a demanda agregada:

- É difícil saber qual das forças prevalecerá, mas uma desaceleração gradual da economia brasileira é um bom "chute educado". Os primeiros dados de atividade do segundo trimestre apontam para um desempenho mais ambíguo da economia.

O "chute educado" é uma versão à brasileira do "informed guess", ou seja, um palpite dado com base em conhecimento e informação.

Um dos sinais de que o mercado escolheu acreditar em uma parada no juro é a valorização de ações de empresas dependentes do mercado interno, como Magazine Luiza, que decolou quase 7%, e Assaí, que disparou próximo a 4%.

Ainda não se trata de consenso. Sara Paixão, analista de macroeconomia da InvestSmart XP, está entre os que ainda veem possibilidade de alta na Selic:

- No último comunicado, o Copom sinalizou como risco baixista a preocupação com redução na atividade econômica mais forte. Porém, os últimos dados de atividade econômica e mercado de trabalho reduzem esse temor, o que leva à expectativa de mais um aumento de 0,25% essa quarta. _

E haddad?

Em meio à batalha do rombo fiscal, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tirou férias. A "gestão" do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ficou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem explicitou queixas sobre a demora do pagamento das emendas parlamentares. Ontem, Motta se reuniu ainda com os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.

Enquanto ninguém sabe para onde vai o preço do petróleo, o Brasil faz hoje novo leilão de exploração, que inclui pela primeira vez áreas na Foz do Amazonas. A dúvida é se vai eclipsar ofertas na Bacia de Pelotas no litoral gaúcho.

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Brasil um pouco mais competitivo

Não é óbvio, mas aconteceu: entre os 69 países analisados no Anuário de Competitividade do IMD Business School, o Brasil subiu quatro posições neste ano. O país, que estava em 62º lugar em 2024, neste ano foi para o 58º. É o melhor resultado desde 2021 e reflete avanços em áreas como desempenho econômico e eficiência empresarial.

O topo das cinco primeiros colocações tem Suíça - que assumiu a liderança agora, subindo da segunda posição no ano passado - Singapura, Hong Kong, Dinamarca e Emirados Árabes Unidos. No último posto, está a Venezuela.

O que levou o Brasil a galgar quatro postos foi a melhora em aspectos como fluxo de investimento direto estrangeiro (5º no ranking geral), crescimento de longo prazo de emprego (7º), subsídios governamentais (6º), atividade empreendedora (8º) e energias renováveis (5º). Por outro lado, as exportações de serviços comerciais (67%), a mão de obra qualificada (68º), a educação primária e secundária (69º), as habilidades linguísticas (69º) e a dívida corporativa (68º) impediram desempenho ainda melhor.

O IMD World Competitiveness Index está na 37ª edição. No Brasil, é feito em parceria com o Núcleo de Inovação, IA e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral (FDC). Permite analisar e comparar esforços de competitividade, orientando governos e empresas na identificação de áreas estratégicas e no aporte de recursos e implementar melhores práticas. _

Ranking dos países

1º Suíça

2º Singapura

3º Hong Kong

4º Dinamarca

5º Emir. Árabes Unidos

6º Taiwan

7º Irlanda

8º Suécia

9º Qatar

10º Países Baixos

58º Brasil

59º Botswana

60º Peru

61º Gana

62º Argentina

Fonte: IMD World Competitiveness Ranking 2025

Israel não tem armamento para destruir o arsenal nuclear do Irã.

João Miragaya - Historiador e assessor do Instituto Brasil-Israel, sobre a ambição inalcançável de eliminar a ameaça atômica que foi pretexto para os ataques que começaram no dia 13.

Novo incentivo em debate

Representantes do setor químico vieram ontem a Porto Alegre para debater na Assembleia Legislativa do Estado projeto de lei que institui o Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química. É prevista a concessão de créditos financeiros de até R$ 5 bilhões por ano entre 2027 e 2029 para aquisição de matéria-prima, ampliação de capacidade produtiva e modernização tecnológica. _

Um impacto que Trump busca evitar

Depois de quatro dias de conflito provocado pelo ataque de Israel ao Irã, o contrato para entrega em agosto recuou ontem 1,3%, para US$ 73,23. Entre a ameaça de Donald Trump de colocar os Estados Unidos na guerra e a informação de que teria vetado o assassinato do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, o mercado tenta crer na racionalidade do atual ocupante da Casa Branca. O que pode de fato frear Trump é a chegada do verão.

É que nos EUA, o período também é conhecido como "drive season", ou seja, a "estação de dirigir". É quando milhões de americanos pegam seus carros e percorrem o país nas férias de verão. Nos EUA, qualquer aumento no petróleo é repassado de forma imediata aos preços dos combustíveis. Já sob risco de aumento da inflação pelo tarifaço, a alta pode ocorrer de fato por outro tipo de impacto.

- O petróleo está entrando em pico de demanda nos EUA e buscarão sinais de estabilização. Por enquanto, o conflito parece estar contido. Vemos os preços do petróleo limitados abaixo de US$ 80 por barril - avalia Mukesh Sahdev, líder global do mercado de petróleo da consultoria Rystad Energy.

Um dos motivos da disparada do preço foi o temor de que o Irã fechasse o tráfego no Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% do volume total de petróleo que circula no mundo.

- O fechamento de Ormuz embute risco de forte escassez de oferta, sustentando preços e a tensão. Dado o interesse em manter os preços perto de US$ 50, os EUA poderiam ter papel estabilizador - reforça Janiv Shah, vice-presidente de mercado de petróleo da Rystad. _

GPS DA ECONOMIA

17 de Junho de 2025
Vitor Netto

Conflito entre Irã e Israel na pauta do G7

Líderes dos sete países mais industrializados do mundo estão reunidos na 51ª cúpula do G7 em Kananaskis, no Canadá. Embora o conflito entre Irã e Israel não estivesse originalmente na pauta principal, a crescente escalada de tensões tornou seu tratamento praticamente inevitável.

Segundo a imprensa americana, os líderes do G7 prepararam uma declaração conjunta pedindo a redução das tensões, mas o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não pretende assinar o documento.

O rascunho da declaração afirma o direito de Israel à autodefesa e rejeita a possibilidade de o Irã obter armas nucleares. Esta é a primeira reunião formal do grupo desde o início do segundo mandato do presidente americano.

- Acho que vai ser um clima um pouco tenso, porque todos os governantes que participam do G7 hoje são contrários a Trump, e (já vimos que) Trump já tem dado sinais de que está nada moderado - lembra Roberto Uebel, professor de Relações Internacionais da ESPM-SP.

Mediação

Para o especialista, o G20 teria mais legitimidade que o G7 para discutir o conflito:

- Os países podem tentar se oferecer como mediadores para um cessar-fogo ou negociações. Mas dificilmente haverá uma declaração condenando Israel, ou mesmo um texto mais enfático contra o Irã. Talvez surja uma condenação específica aos ataques iranianos, mas provavelmente em termos bastante equilibrados - avaliou Uebel.

Além de Trump, participam da cúpula: o presidente francês, Emmanuel Macron; o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, como anfitrião; o britânico, Keir Starmer; a italiana, Giorgia Meloni; o presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa; o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba; o chanceler alemão, Friedrich Merz; e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Originalmente, o foco da reunião seria a defesa das instituições multilaterais pelo Canadá, questões energéticas e climáticas. Também eram esperadas propostas de Trump aos demais líderes - questões que agora dividem atenção com a crise no Oriente Médio. _

Prédio de TV estatal iraniana é atingido durante transmissão

Um bombardeio israelense atingiu ontem o prédio da Radiodifusão da República Islâmica do Irã (IRIB), televisão estatal iraniana, interrompendo a transmissão ao vivo do canal.

Um vídeo divulgado pela emissora mostra o momento exato da explosão. A apresentadora deixou o local segundos antes da interrupção do sinal.

O próprio ministro da Defesa israelense, Israel Katz, admitiu o ataque. As Forças Armadas de Israel (FDI) também confirmaram o ato e acusaram a TV de ser usada como cobertura civil para conduzir operações militares secretas.

O governo do Irã respondeu que o ataque constituiu um crime de guerra. _

Quase dobra o volume de turistas no RS

O RS quase que dobrou o volume de turistas internacionais nos primeiros meses do ano em comparação com o mesmo período de 2024.

De janeiro a maio de 2025, o RS recebeu 1,17 milhão de visitantes estrangeiros. A alta, conforme dados da Embratur, é de 94,5% e é a maior entre todos os Estados.

Segundo o órgão, o bom desempenho gaúcho ajudou a alavancar os números nacionais. No acumulado até maio, o Brasil já recebeu 4.887.229 visitantes internacionais, o que representa 70% da meta anual prevista pelo Plano Nacional de Turismo (PNT) 2024-2027, que prevê a chegada de 6,9 milhões de turistas até dezembro.

Os argentinos são os principais turistas que chegam ao Brasil. O número de visitantes do país vizinho dobrou em relação ao mesmo período do ano passado. _

Os parentes do papa Leão XIV

O papa Leão XIV é o primeiro líder da Igreja Católica nascido nos EUA. Só por isso já é um fato curioso para uma instituição que, por séculos, teve pontífices europeus. Mas uma informação que circulou no fim de semana e chamou a atenção foi o parentesco - ainda que distante - do Santo Padre com artistas como Madonna e Justin Bieber.

A revelação foi publicada pelo jornal americano The New York Times, em reportagem do jornalista Henry Louis Gates Jr. O trabalho de pesquisa conseguiu rastrear até 12 gerações anteriores. As análises incluem dados do ano de 1573 de Isla, uma cidade no norte da Espanha.

Aliás, a árvore genealógica do cardeal Robert Prevost revela que sua família está intrinsecamente ligada à imigração. Entre seus ancestrais, há 40 da França, 24 da Itália, 21 da Espanha, 10 de Cuba, seis do Canadá, um do Haiti e um de Guadalupe. 

Outros 22 são americanos. E, durante as pesquisas, surgiram conexões inesperadas: por meio de um ancestral canadense, Louis Boucher de Grandpré, o papa é parente distante de personalidades como os ex-primeiros-ministros do Canadá Pierre e Justin Trudeau; a atriz Angelina Jolie; a ex-primeira-dama dos Estados Unidos e política democrata Hillary Clinton; e os cantores Justin Bieber e Madonna.

Fatos mostram que 17 ancestrais do papa eram negros - oito deles foram escravizados. _

Atestado para corrida

O vereador da Capital Moisés Barboza (PSDB) protocolou um projeto de lei que cria a obrigatoriedade da apresentação de atestado médico para participação em eventos de corrida de rua em Porto Alegre. O documento deverá ser emitido por médico inscrito no Conselho Regional de Medicina, assegurando aptidão do participante para a atividade física de esforço intenso.

A proposta exclui da exigência para eventos de caráter recreativo com percurso inferior a três quilômetros. Pessoas com atestado anterior válido, já apresentado em outro evento do mesmo organizador, não precisarão mostrar novo comprovante. _

Vitor Netto

INFORME ESPECIAL

segunda-feira, 16 de junho de 2025


16 de Junho de 2025
CARPINEJAR

Versões fantasiosas: Inter jamais jogou bem no ano

Ao som da flauta, o Inter dormirá no Z-4 por um mês devido à paralisação do Brasileirão pelo Mundial de Clubes. Pode parecer que não é um apocalipse. Ainda faltam dois terços do campeonato. Pode parecer um acidente de percurso. Mas não é verdade.

Excetuando as rodadas iniciais, é a primeira vez desde 2016 que o Inter acaba na zona. E lembra o que aconteceu naquele ano?

O clube tem alimentado narrativas de que só estamos na mendicância da tabela pelo número de lesões, pelo calendário apertado ou por priorizar a Libertadores e a Copa do Brasil. Correspondem a versões fantasiosas, que escondem a realidade: o time jamais teve uma partida de gala (Gauchão não conta), com os titulares ou com os reservas.

São cinco derrotas, cinco empates e duas vitórias (ambas no Beira-Rio), sendo uma sobre o Cruzeiro, com um jogador a mais, e outra, a última, há dois meses, contra o fragilizado Juventude. É uma campanha pífia. Vergonhosa. Na Copa do Brasil, sofremos para ganhar em casa do Maracanã.

Se não fosse a virada difícil no segundo tempo contra o Bahia, já teríamos dado adeus à Libertadores. Ou seja, fomos os primeiros no grupo da morte por um detalhe, mas somos um morto-vivo. Houve grandes chances de sermos eliminados também por um detalhe.

No conjunto da temporada, nada justifica o trabalho de Roger Machado. Eu adoro sua personalidade, mas ele possui um histórico de começar bem e depois desandar. Foi assim no Palmeiras, no Atlético Mineiro, no Fluminense. É litrão: só tem gás no começo. Suas melhores largadas se resumem ao comando de equipes gaúchas.

Tudo é penoso. Previsível. O elenco joga mole. Será carência de qualidade ou de qualificação? Wesley desaprendeu a atacar. Enner desaprendeu a fazer gol. Bruno Henrique e Thiago Maia desaprenderam a desarmar. Anthoni ostenta a pior média de defesas de um goleiro no país. Quando ele não falha, tampouco salva.

Se o Galo tivesse Anthoni debaixo das traves na derrota de quinta-feira, em Belo Horizonte, e não Everson, o chute de Borré e a cabeçada de Juninho teriam entrado.Em todos os confrontos - tirando a Copa do Brasil, o empate com o Fortaleza e o triunfo sobre o Nacional - o Inter levou gol. Somos uma defesa vazada por excelência. Um exemplo de vulnerabilidade. Sempre saímos atrás no marcador.

A recorrência não é problema do técnico? A hora da mudança é agora, aproveitando a pausa para recuperar a mentalidade vencedora. Para resgatar a mínima esperança de reequilibrar as finanças. Nossa dívida está perto de um bilhão.

Conhecemos o roteiro. Fingimos tranquilidade até cairmos da Libertadores e da Copa do Brasil. Vem um novo treinador tarde demais, que talvez nos redima no Brasileiro e alcance uma vaga no G-6. Torna-se um messias. É renovado o seu contrato. A direção defende a ideia de continuidade e de planejamento com a pré-temporada.

Há 15 anos, a partir desse interminável ciclo vicioso, não conquistamos um título de relevância. Debutamos na miséria. Clube grande não age desse jeito. Não vive de milagres e de desculpas. _

CARPINEJAR

16 de Junho de 2025
CLÁUDIA LAITANO

Um dia todo seu

O historiador português Rui Tavares lembrou em uma coluna recente no jornal Folha de S. Paulo que Portugal talvez seja o único país do mundo a associar sua data nacional não a uma batalha (ou a uma declaração de Independência, como no caso do nosso 7 de Setembro), mas à morte de um poeta, Luis de Camões, em 10 de junho de 1580. 

Fiquei imaginando como seria bonito ensinar às crianças que quem inventou um certo Brasil (o que nos dá mais orgulho) não foi Cabral ou Dom Pedro I, mas Machado de Assis e Guimarães Rosa - ambos, por coincidência, nascidos em junho, como Fernando Pessoa, o que consagra o mês como o campeão incontestável em um ranking imaginário de grandes serviços prestados pelo calendário à literatura em língua portuguesa. Nunca as festas juninas fizeram tanto sentido.

Junho é também o mês do Bloomsday, comemorado nesta segunda-feira não apenas na Irlanda onde nasceu James Joyce, criador de Leopold Bloom, personagem do romance Ulysses que perambula por Dublin ao longo das 24 horas do dia 16 de junho de 1904, mas em todos os países onde há leitores. Instituído em 1924, apenas dois anos depois da publicação do livro, o Bloomsday é o mais bem-sucedido exemplo de soft power associado à literatura. Pelo menos para nós, que não nascemos lá, Ulysses é o verdadeiro hino nacional da Irlanda.

Se poucas cidades foram retratadas por escritores tão celebrados quanto James Joyce, muitas poderiam ter um Bloomsday para chamar de seu, inclusive Porto Alegre ("Caio dia", já pensou?). Não precisa ser uma data, um "day", mas qualquer casa, pracinha ou pedaço de realidade que inspire a imaginação dos leitores e a peregrinação dos turistas. (Fala aqui a pessoa que escaneou cada centímetro do Champs Elysées procurando um banheiro público, não pelos motivos óbvios, mas porque uma personagem de Em Busca do Tempo Perdido havia passado mal por ali.)

Enquanto isso, em Londres, um grupo de leitores de Mrs. Dalloway começa a se movimentar para instituir um dia de comemorações semelhante ao Bloomsday. Nada mais justo, uma vez que a cidade é um eixo central na obra-prima de Virginia Woolf - publicada há exatos cem anos. Como em Ulysses, a ação se passa em um único dia, 13 de junho de 1923, quando Clarissa Dalloway se prepara para dar uma festa e seus caminhos se cruzam com a vida e a morte, o passado e o presente, o trivial e o definitivo. Examinando "a mente comum num dia comum por um momento", Virginia Woolf lança o leitor em um magistral vórtice de pensamentos e percepções que até agora não tinha um nome apropriado. Agora tem: Dallowday. _

CLÁUDIA LAITANO

16 de Junho de 2025
OPINIÃO RBS

Um risco global

O exército de Israel admitiu em relatório publicado em fevereiro que o ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023 ao seu território foi fruto de erros graves de seus serviços de inteligência. Foram mal avaliadas as informações sobre as reais intenções do grupo terrorista de empreender uma ofensiva no nível executado. Subestimou-se a capacidade da milícia armada financiada pelo Irã de realizar a invasão que resultou em 1,2 mil mortos e 250 sequestrados. 

As repercussões dos infames acontecimentos de um ano e oito meses atrás são sentidas até hoje com o conflito na Faixa de Gaza. Perduram com o sofrimento dos que ainda são mantidos reféns no enclave e com a angústia das famílias israelenses e de outras nacionalidades que seguem à espera ao menos da devolução dos corpos. Permanecem com o padecimento dos palestinos, população que o Hamas não hesitou em usar como escudo e sacrificar, por saber que a resposta militar de Israel seria contundente.

A ofensiva aérea de Israel contra o Irã, no final da semana passada, deve ser vista pela perspectiva da prevenção a um ataque com armas atômicas, com consequências inimagináveis. Os israelenses miraram, sobretudo, as instalações nucleares e a capacidade de obtenção de armamentos de extrema potência destrutiva pelo país persa, governado por uma teocracia que não esconde seu grande objetivo: varrer Israel do mapa. É o mesmo propósito, aliás, do Hamas, um dos tentáculos armados por Teerã, assim como o Hezbollah, no Líbano, e os Houthis, no Iêmen.

Há décadas a comunidade internacional tenta impedir o Irã de ter arsenal atômico. Na quinta-feira, horas antes do início do bombardeio, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), instância reguladora da área da ONU, adotou uma resolução condenando o Irã, acusando-o de violar obrigações de não proliferação de armas nucleares. Citou "material nuclear não declarado e atividades em vários locais não declarados". Relatou ainda que os iranianos se aproximavam de ter urânio enriquecido no patamar de pureza necessário para armas. A reação do regime dos aiatolás foi a de dobrar a aposta e informar que aumentaria "significativamente" o enriquecimento de urânio.

O contexto das tensões no Oriente Médio, somado ao alerta da AIEA, o primeiro em 20 anos direcionado a Teerã, mostra a inexistência de garantias de que o programa nuclear teria apenas objetivos pacíficos. A possibilidade de o Irã atacar Israel com armas de destruição em massa, portanto, deixou de ser conjectura improvável para se tornar uma ameaça de caráter existencial para o Estado judeu bastante plausível. 

Democracias liberais do Ocidente, da mesma forma, não poderiam se considerar a salvo. Os indícios de propósitos militares do Irã, além do precedente de outubro 2023, explicam e amparam a ação preventiva de Israel. Não é razoável, afinal, esperar racionalidade e diálogo de um regime guiado pelo radicalismo religioso, opressor do próprio povo.

França, Alemanha e Reino Unido, que vinham criticando o governo Benjamin Netanyahu pela situação atual em Gaza, voltaram a ressaltar o direito de Israel de se defender. O conflito escala, com israelenses realizando novos ataques e iranianos respondendo com chuvas de mísseis, atingindo alvos civis de forma indiscriminada. 

O desejável, obviamente, seria uma saída diplomática e a obtenção de garantias verificáveis de que o Irã abre mão de projetos bélicos atômicos. Só não se pode negar os altos riscos de não existir essa certeza, pela conduta pregressa do regime. Não só o Oriente Médio, mas o mundo se tornaria mais perigoso se um governo que coleciona inimigos e se move pelo fundamentalismo primitivo conseguisse alcançar tamanho potencial destruidor. 


16 de Junho de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Fabio Giambiagi - Pesquisador associado da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-assessor do Ministério do Planejamento na gestão de José Serra

"Temos um regime de irresponsabilidade compartilhada"

Fabio Giambiagi é formado em Economia pela FEA/UFRJ, com mestrado no Instituto de Economia Industrial da UFRJ. Integrou a gestão do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Washington por dois anos. É especializado em contas públicas, assunto da maioria de seus cerca de 40 livros. Na semana em que se debateu saída para o rombo nas contas públicas, avalia que 2027 está sendo antecipado.

Por que há tanto bate-cabeça no governo e com o Congresso sobre cortes de gastos e aumentos de tributos?

É 2027 colocando um pé em 2025. Há muito tempo que se sabe que temos um encontro com a verdade orçamentária em 2027. O arcabouço atual não resiste em pé no próximo governo, seja quem for o vencedor das eleições. O debate inevitável de 2027 foi parcialmente antecipado para 2025. A solução que vier a ser encontrada não passará de gambiarra. A definitiva terá de vir em 2027.

Qual o problema das atuais?

Não é a regra em si, que até faz sentido. Se o gasto cresce no máximo o equivalente a 70% do aumento da receita, ao longo do tempo tenderia a se ajustar. O problema é a inconsistência entre a regra geral e algumas específicas. É o caso do reajuste real do salário mínimo e da vinculação das despesas com saúde e educação, presentes desde o primeiro momento do arcabouço. Não foi resolvida nem o será no atual governo. Ou muda a regra geral para permitir mais gasto ou mudam essas duas específicas.

E o que se espera para 2027?

Tudo vai depender de quem vencer a eleição. Se houver mudança na Presidência da República, pode haver desdobramentos naturais da mudança do ocupante do Planalto, com alteração da política econômica. Se o presidente for reeleito, tenho curiosidade para saber o que fará.

Por quê?

Porque é impossível não mudar. Todo ano, é preciso apresentar o orçamento do seguinte até 31 de agosto. Antes, é preciso apresentar as linhas gerais no projeto de lei de diretrizes do orçamento (PLDO), que costumam ser apresentadas em abril. Nesse protocolo, o governo é obrigado a apresentar ao Congresso o cenário fiscal dos anos seguintes. Neste ano, o governo criou um conceito que é um oxímoro (figura que combina noções opostas).

Qual seria?

Inventaram o conceito de "gasto negativo". É uma aberração contábil. É como se no orçamento familiar, o cidadão tivesse um salário de R$ 10 mil e depois de pagar comida, escola do filho e outros, incluísse "gasto negativo" de R$ 1 mil com lazer (a soma correta seria de R$ 11 mil). Isso não existe. Como o Excel aceita tudo, foi a forma de fechar a matemática.

Para que "gasto negativo"?

O orçamento é elaborado a partir das despesas obrigatórias. O que sobra, no total de gastos permitido pelo arcabouço, é o que se chama, no jargão fiscal, de "despesas discricionárias". Mas por mais estranho que pareça, são quase todas também obrigatórias. A despesa das intocáveis emendas parlamentares é obrigatória. Como cresce de acordo com o aumento da receita, o espaço para as discricionárias diminui. Para conseguir incluir as "discricionárias obrigatórias", incluíram o tal gasto negativo. O líder do PT (na Câmara), Lindbergh Farias, disse no dia 8 que o governo não tem intenção de mudar as regras de saúde e educação e do reajuste do salário mínimo. Então, o que teremos serão medidas cosméticas.

Resumir o ajuste a essas medidas provoca sempre a reação de que "cortam só no andar de baixo", não?

Não haverá perda de valor recebido por quem ganha salário mínimo, nem dos recursos da saúde. Isso não está em pauta. No dia em que for feito, ninguém vai tirar um centavo da educação. A discussão é sobre qual será a regra de reajuste a partir de determinado momento, porque essa é uma despesa que aumenta loucamente. A conta não fecha nunca.

Não seria necessário conter também o gasto com emendas e o custo tributário, ou seja, incentivos fiscais?

Com certeza. Temos um regime de irresponsabilidade compartilhada. O Executivo é irresponsável, tem uma situação que nos leva à insolvência, se for mantida. E o Legislativo não se considera parte da equação, mas tem poder de veto sobre o Executivo. Para qualquer observador da realidade que conheça um pouco da questão fiscal, o regime é disfuncional. Ninguém no Congresso se sente responsável. Cada um pensa na sua própria paróquia.

E por que, na semana caótica do orçamento, o dólar ignorou o problema?

É que o mundo está de pernas para o ar. Tivemos um caso extremo. Foi como se Lula enviasse tropas federais para São Paulo à revelia do governador (referência ao envio do Exército dos EUA à Califórnia). É algo próximo de um estado de sítio. Antes, o dólar iria para a Lua, porque é uma instabilidade institucional de república de bananas. É a situação em que o famoso porto seguro é qualquer coisa menos seguro. Nas atuais circunstâncias, o investimento vai para o resto do mundo. _

GPS DA ECONOMIA